Arnaldo gostava de viajar. Voltava, contava sobre suas viagens para a família e tinha uma coluna no jornal em que fazia os mesmos relatos.Arnaldo nasceu em Itajaí, foi morar no Rio de Janeiro, depois foi para Brasília. Corria o mundo, mas seu primeiro destino, antes de voltar para Brasília, era Itajaí. Um dia, em Paris, ele encontrou Giselda, que nascera em Itajaí, depois foi para o Rio de Janeiro e fixou residência na capital francesa. Morava sozinha e disse para Arnaldo que preferiu se fixar em Paris, pois lá tinha mais privacidade.
As mulheres que saem sozinhas de seu país e fixam residência em outro sempre me impressionaram. Penso nas suas experiências, vivências, sofrimentos, alegrias e conquistas. Há as que fizeram sucesso (Gisele e Carmem). Mas há as que ficam desconhecidas. Sei de uma que vive hoje numa capital européia e trabalha num café. Aqui, filha de gente da classe média, criada com mimo e fortuna. Foi para lá, para a Europa e não sei se é feliz ou não.
Foram essas mulheres que me vieram à cabeça quando começou o espetáculo do Moulin Rouge. Moulin Rouge é Moinho Vermelho.
Antes, ao entrar, deixei a máquina fotográfica na portaria: é proibido entrar com captadores de imagens e sons. Saboreia-se um jantar regado a champanhe, francesa, é claro. Mas bebi refrigerante, pois nunca gostei muito de bebidas alcoólicas.
Durante o jantar, uma música suave é executada ao vivo (por instrumentistas e vocalista). Terminada a janta, o palco avança para a platéia e começa o espetáculo.
Mulheres lindíssimas, sempre com os seios nus, executam ricos e graciosos passos de dança, em diversos enredos e motivos. Há também dançarinos. O espetáculo é inesquecível e se torna mais presente na memória quando se compra o DVD que é oferecido, oficialmente, na saída.
São danças contemporâneas, apresentações de trajes de diversos povos, o folclore de alguns, passando pela França, pela Índia, China etc. Fiquei com a impressão que o espetáculo só contempla nações do hemisfério norte, aí incluído o oriente. Nada lembrou-me a África ou a América do Sul. Ao final, o can-can e suas roupas nas cores azul, branca e vermelha (curiosamente as cores nacionais da França, da Inglaterra e dos EUA - sei de outros países que também as adotam).
Mas há um momento que aparecem soldados e acordes de música militar. Acho interessante como países de origem germânica gostam da guerra e a mostram em suas danças e espetáculos. Não lembro de ser comum em espetáculos brasileiros a presença de soldados.
Soldados lembram a guerra e não me parece que gostemos de lembrar a guerra.
Mas durante os primeiros minutos do espetáculo do Moulin, como dizia, lembrei-me das mulheres que saem sozinhas do Brasil. Fiquei imaginando como seria alguém ir ao Moulin Rouge e ver uma parente lá, linda, exuberante, dançando, sempre com os seios nus. Ainda que seja certo que a reação variaria de pessoa para pessoa, aquele pensamento ficou rodando muito tempo na minha cabeça. Depois, saboreei o espetáculo. Há riqueza de detalhes e há o sabor da tradição do Moulin Rouge. Fica-se pensando nos anos e anos de espetáculos, das pessoas que o assistiram, das centenas de homens que devem ter se apaixonado pelas bailarinas e que nem sempre conseguiram se aproximar delas.
Montmartre é o bairro em que fica o Moulin. Mas há o Montmartre em que viveu Papillon. Não parece ser o mesmo local, o do Moulin e aquele em que viveu Papillon. Mas imaginei o Moulin Rouge nos tempos em que Papillon esteve por lá: década de 30. Como seria? Todo este tempo me parecia impregnado nas paredes da casa de espetáculos. Cada mulher que lá estava, parecia
carregar alguma lembrança de todo um século de danças, exuberância, beleza e, quem sabe, paixões.
O Moulin rouge é isto: um grande espetáculo de dança, de mulheres lindas mostrando seus seios sensualíssimos, vestidas - no restante do corpo - magnificamente, num cenário deslumbrante, impregnado de tradição e lembranças.
O Moulin Rouge é, por isso, uma das grandes lembranças que ficam de Paris.
Ah, sim, como disse, há também homens dançando no Moulin Rouge. Lembro deles vestidos de soldados, piratas, ciganos, caçadores, policiais...
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