Joaquim Nabuco, em sua extraordinária análise sociológica da escravidão feita em "O ABOLICIONISTA", atribuiu à terrível instituição boa parte dos principais problemas do país, como a precária formação das classes sociais, a fraqueza da sociedade, a dependência do Estado, o peso do funcionalismo público, o desprezo pelo trabalho manual. Havia, sem dúvida, alguma verdade na análise. A dificuldade surge quando se verifica que, extinta há longo tempo a escravidão, persistem quase todos os problemas apontados por Nabuco como dela decorrentes. Há nesse caso apenas duas saídas. Ou dizer que Nabuco se enganou e que a escravidão nada tinha a ver com os problemas, ou, o que é mais sensato, admitir que a escravidão era apenas parte da explicação e que outras causas operavam simultaneamente.
Esta atribuição de causas a problemas, sem a necessária pesquisa e análise, lembra o diagnóstico de muitos médicos, quando se deparam com pacientes gordos: logo vão dizendo que doença foi causada pela obesidade. Tenho uma amiga, Sara, que é "cheinha", digamos. Sara é médica. Quando vai a consultas e atribuem a doença de que se queixa à gordura, Sara - quando sabe que a causa provável é outra - diz para o médico: "Engraçado, tempos atrás eu estava bem magra e tive os mesmos sintomas..." E o médico, vencido pelo argumento, passa a fazer um exame mais acurado...
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