Foi quando me candidatei a Presidente do GESI (Grêmio Estudantil Salesiano Itajaí) que tomei contato, pela primeira vez, com o lado mais duro da política e das eleições. Até então só havia disputado diretorias de clubes de classe e a eleição para Secretário do GESI fora pela situação, sem muito trabalho. Mas antes da narrativa, acho interessante descrever a dinâmica política que se instalou no Colégio Salesiano Itajaí, a partir de 1968, com a chegada do Pe. Heriberto José Schmidt, que vinha de Minas Gerais (veio para SC para ficar mais perto de seus pais, que moravam em Luis Alves).
Pe. Schmidt, além de "repaginar" (o termo não existia na época) e dar mais alcance à atuação do GESI, fundou, em cada turma de aula, um Clube de Classe. Deveriam ser umas 25 turmas de aula, já que o Colégio tinha 1.000 alunos, cada turma com, em média, 40 alunos. Eu estava na 1ª série do Curso Ginasial (equivalia à 5ª Série de hoje). Sem me candidatar, fui eleito presidente. Era o Clube dos Amigos da Fitologia, ou Clube da Árvore (na época começavam a surgir as preocupações com o meio-ambiente). Ser eleito era visto como uma honra, uma deferência da turma e não se cogitava recusar o cargo. Com o tempo (ou seja, já nos primeiros meses) é que fui sentindo a volúpia do poder e passei a me candidatar em todos os anos seguintes. Uma vez eleito, naquele ano de 1968, tinha que montar o clube a partir do zero: fazer bandeira, carteirinha de sócio etc. Sobrou para minha mãe costurar a bandeira e meu pai pintar a árvore. O projeto de bandeira foi feito por mim: era um retângulo verde, com um triângulo vermelho no meio e uma árvore pintada. Não lembro se me inspirei na Inconfidência Mineira ou se coloquei o triângulo por causa do losango da Bandeira do Brasil ou se o triângulo foi posto somente para que se pudesse pontar a árvore.
Então, a cada ano, com a mudança turma e o avanço nas séries do curso, ia-se mudando de clube e participando de eleições. E era assim que iam surgindo as lideranças no colégio, num tempo em que a ditatura fazia de tudo para que não brotassem líderes entre os jovens.
Assim, começando nas disputadas dentro das turmas de aula, a diretoria do Grêmio era o passo seguinte na "carreira política" estudantil. Alguns dos Padres do Colégio se envolviam com esta política (e certamente exerciam algum controle e fiscalização) e outros se limitavam às tarefas letivas e/ou adminstrativas do Colégio (lembro que o Padre Tesoureiro e o Padre Secretário não se envolviam; também não se envolviam o Padre que fundou o GESI em 1961 e dele se afastara em 1968 e outros padres que se limitavam a dar aulas).
Então com 15 anos (era o ano de 1972) e no 1º ano do curso científico (hoje o 2º grau), eu já havia participado de 5 eleições de turma: perdi algumas, ganhei outras e, numa das derrotas (1969), candidatei-me a Presidente de um clube extra-classe: o clube dos coroinhas. Não lembro se ganhei ou perdi este eleição. Então, em 1972, fui convidado, aceitei e participei da eleição para Secretário e a chapa foi eleita (a foto acima é da tomada de posse).
Aí vieram as atividades normais (Festival da Canção, Olímpíada Estudantil e eventos menos destacados). Ali aprendi a redigir ofícios, a fazer contato com a imprensa, a lidar com políticos, empresários, vendedores etc. Trabalhava-se muito, de manhã, de tarde, de noite, tudo de graça. Evidentemente que os estudos iam ficando em segundo plano, mas eu conseguia, aos trancos e barrancos, passar de ano. E penso que, para quem fazia política estudantil, sempre havia mais compreensão com as faltas às aulas (desde que decorrentes daquela atividade política).
Com o fim do mandato de Secretário veio a escolha da chapa da situação. Não fui escolhido e, inconformado, montei a chapa de oposição.
Tínhamos um jingle de campanha (usávamos uma música como jingle, é claro, e não uma composição nossa) e a imprensa da cidade (um jornal diário e um semanal) deu cobertura à eleição. Mas, como não poderia deixar de ser, ARENA e MDB, os dois partidos do regime militar, acabaram se envolvendo na campnha. Eu fui apoiado por um político do MDB e comecei a ver como funcionava a troca de favores.
O Colégio Salesiano era particular. Mas havia alunos que estudavam com bolsa (não sei se precisavam ou não da bolsa - o que seria um dado importante para julgar o que contarei). O político que me apoiava exortou os bolsistas que haviam recebido bolsa por intermédio dele a votarem em mim. O fato foi uma novidade para mim e um duro aprendizado: ali percebi, pela primeira vez na vida, que favores são cobrados, devida ou indevidamente. Vi o troco de alguns alunos em cima do político: disseram que iam me apoiar e não o fizeram. Interessante: o político repassou as bolsas pagas com dinheiro público; os alunos podiam ou não precisar das bolsas; nunca, até então, eu sabia que políticos podiam escolher para quem dar bolsas de estudo e nem eu, nem meus pais, sabiam como obter as tais bolsas (e nunca fomos atrás delas); em quais circunstâncias, portanto, foram distribuídas as bolsas e quais eram os critérios para distribuição? Não sei. Nunca soube com certeza. De qualquer modo, o episódio das bolsas me entristeceu: era duro ver jovens apoiar alguém sem convicção; foi igualmente decepcionante perceber, também e já aos 15 anos de idade, que apoios políticos nem sempre são fruto da crença nas qualidades do candidato ou de suas propostas.
O apoio do político não me fez ganhar a eleição. Muitos anos depois encontrei o vencedor, já com os cabelos grisalhos. Não seguiu a carreira política.
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