sábado, 5 de dezembro de 2009

Árvore de Natal



Num certo natal, há muitos anos, meu pai só conseguiu uma árvore cujos galhos estavam bastante secos. Criativo, cobriu todos os galhos com algodão para disfarçar as partes secas. E acabou gostando do que fez, adotando então a cobertura de algodão como modelo de ornamentação de árvore da natal lá em casa.
Apesar do motivo inicial, a verdade é que o algodão também tinha um efeito simbólico: representar a neve. E este efeito também era dado ao presépio, cujo telhado era coberto de gesso, branco e escorrido como se fosse neve.
Depois da morte de mau pai, mantive a tradição e continuei enfeitando a árvore com bolas, cabelos de anjo, luzes coloridas; mas antes cobria a árvore toda com algodão. Mas o presépio - que ele havia me presenteado - tinha cobertura de palhas e não de neve. É que - por ter sido o presépio um presente de meu pai, eu acreditava estar autorizado a quebrar a tradição neste ponto. O meu presépio, portanto, nunca foi coberto com algo que imitasse neve.
Tudo foi se passando assim, durante ano após anos.
Até 2003 eu nunca havia visto neve caindo. Vira gelo em 1990, quando fui a Bariloche, mas não vi neve. Em 2003 vi neve no Chile. O contato com a neve só ocorria (por óbvio) quando se ia para fora do hotel. Dentro, tudo era devidamente aquecido. Percebi, então, que a neve é muito bonita nas fotos, nos desenhos e nos enfeites natalinos. Mas o contato com a neve é desagradavelmente frio. Vestido como um repolho, com as roupas mais quentes que eu tenho, meu corpo era invadido por um ar gelado, que dava a impressão de que eu estava com febre. E roupas apropriadas para a neve só se conseguia quando alugadas, o que as deixava a dever em matéria de conforto.
Desde então comecei a perceber que o natal brasileiro, o natal a que estamos acostumados, não pode ter a neve como tema central de seus adornos. Para nós, brasileiros, enfeitar uma árvore de natal sem estar pingando de suor deve ser uma sensação muito estranha. Sair para o quintal sem camisa, ficar lá pintando ou pregando um arranjo natalino é coisa normalíssima para nós. Que difícil deve ser sair da casa quentinha e ir cortar uma árvore lá fora ou pegar alguns galhos para ornamentar a sala...
Desde então fui abolindo de meu natal os desenhos e temas relativos ao frio. Hoje coloco só alguns algodões na árvore ou uns borrifos de tinta branca para lembrar nossos antepassados europeus que trouxeram seus hábitos natalinos para cá. No presépio, nenhum resquício de neve.
Ultimamente tenho passado algum tempo imaginando como seria um Papai Noel tropical. De bermuda? Boné com protetor solar? Camiseta sem manga? Seria branco? Mulato? Preto? Índio? Talvez um dia criemos um Papai Noel com cara de gente do hemisfério sul e roupa apropriada para o clima que temos no Natal...
Nas fotos acima, a árvore que meu pai enfeitava (os dois na frente somos eu e meu sobrinho Paulo Cesar; no lado direito está o presépio, com telhado branco) e a árvore que
eu e minha esposa enfeitamos ano passado.

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