Creio que me barbeio regularmente há uns 36 anos e, irregularmente, há 40. É que aos doze se é quase imberbe e é lá pelos 16 anos que começa a haver certa necessidade do barbear. Mas é aos 52 que estou mudando da lâmina para o barbeador elétrico (não sei se hoje é elétrico ou eletrônico), mas funciona à base de eletricidade.
Em uma semana de uso, o barbeador elétrico está me parecendo algo tão óbvio, que desconfio que o barbear com lâmina tem algum efeito ritualístico que o faz superar o barbeador elétrico. Talvez seja um momento de instrospecção do macho ou uma forma de exaltar a masculinidade. Só pode ser isso que dá tanta sobrevida a todo aquele artefato de espuma, lâminha, espelho, pia e água. O barbeador não exige água e se pode "fazer a barba" em qualquer lugar que tenha um espelho e a qualquer hora. O que isso tem de tão desinteressante?
Na minha cabeça, a grande mística dos cortes de barba e cabelo estava nas barbearias que frequentei quando ainda criança, em Itajaí. Era um ambiente muito interessante e agradável. Conversas engraçadas, ponto de encontro de homens e dos meninos que os adultos carregavam para lá e que, aos berros, viam seus cabelos sendo cortados. Os aparelhos caseiros de barbear ainda eram os primeiros sucedâneos das navalhas e não
produziam efeito muito melhor que elas além da possibilidade de, ao perderem o fio, serdescartados.
E a navalha? A navalha era um instrumento de briga e de barba.Soube de um homem que estava numa briga. O outro contendor enfiou a mão no bolso de trás da calça e a turma que assistia gritou: Vai, Fulano, vai que é um pente. Pois o Fulano foi e era uma navalha. Levou uma navalhada no rosto, mas sobreviveu.
Os homens que iam se barbear se sentavam na cadeira, que reclinava. O barbeiro pegava a navalha e a afiava num couro de bode, alguma coisa assim. E cortava a barba do freguês.Sempre achei aquilo interessante, mas quando tive barba que justificasse uma ida ao barbeiro, as navalhas já eram descartáveis e não tinha mais o ritual da amolação.
Hoje as barbearias já são instituições meio que do passado. Ou só comportam um ou dois barbeiros e poucos fregueses. Isto não dá mais ensejo àquela conversarada toda, que coloria os cortes de cabelo. É verdade que as máquinas de cortar cabelo eram manuais e um pouco violentas, pois cortavam alguns fios e arrancavam outros. Mas era o preço do alegre burburinho.
Ser barbeado em barbeiro, hoje, me parece algo impensável, dada à quantidade e variedade de aparelhos, láminas e barbeadores elétricos disponíveis no mercado. Já vi, inclusive, barbeadores elétricos que podem ser lavados com água.
Restaram os cabelos dos homens para ser cortados. Por isso, tenho a impressão de que devem ser muito poucos os barbeiros em atividade. Uma pena...
Encore un bon article : j'en discuterai plus tard avec certains de mes collègues
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