quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Nossa Senhora dos Navegantes

Dia 2 de fevereiro é dia de Nossa Senhora dos Navegantes, um dos ícones do nosso sincretismo religioso. A mesma imagem pode também representar Iemanjá. A explicação mais interessante para sincretismo religioso encontrei em SOUZA (Marina de Mello e. Reis Negros No Brasil Escravista. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2002). O sincretismo não é a mistura de religiões, mas é a possibilidade de usar símbolos de uma religião por outra e viver uma religião usando também os ritos de outra. As nossas medalhinhas e santinhos católicos viram inkises ou inquices para as religiões de inspiração africana.  
Em todo o Brasil há procissões marítimas em homenagem à Nossa Senhora dos Navegantes. Mas a mais significativa para mim, por motivos óbvios, era a que ocorria e ocorre em Navegantes. A gente via do lado de Itajaí, pois morávamos perto do rio.
De vez em quando acontecia alguma tragédia ou incidente rumoroso na procissão: um barco que virava, ou abalroava outro, brigas etc. E as notícias chegavam no dia seguinte lá em casa, pois as pessoas que se dirigiam para Itajaí passavam lá por casa e deixavam as notícias. Por causa destes incidentes, sempre fiquei meio tenso, meio assustado durante as procissões.
Desde muito criança era levado para ver a linda procissão de barcos. Numa destas procissões  - eu devia ter de 5 a 7 anos - aconteceu um episódio inesquecível. Fui com minha mãe. Lá encontramos uma conhecida. Num dado momento minha mãe precisou ir em casa e pediu para a mulher tomar conta de mim. Mal minha mãe tomou distância, a mulher desandou a soltar flatos em profusão, tão estrondosos que eu pensei que ela estava brincando, ou fazendo o barulho com a boca. Nada disso. A sucessão de flatos vigorosos e barulhentos deu-me a impressão de que a mulher estava sendo vitimada por um descontrole esfincteriano. Mas o alarido intestinal foi cessando aos poucos, até voltarmos a escutar somente os foguetes da procissão. Com a volta de minha mãe, tudo se normalizou e a ausência de cheiros e corrimentos marrons pelas pernas da mulher indicava que tudo não passara de uma violenta, sonora e demorada expulsão de gases intestinais.
E a mulher (já devia ter uns 50 ou 60 anos) encarou todo aquele episódio com a maior naturalidade. Naqueles tempos era assim: criança tinha que aturar tudo. E talvez a mulher pensasse que ninguém acreditaria em minha narrativa. Mas acreditaram e riram muito do mico que paguei.  

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