A primeira das fotos acima é da minha primeira bicicleta (a foto foi feita em Balneário Camboriú, mas eu morava em Itajaí). Devo tê-la ganho quando tinha uns 3 ou 4 anos, no Natal. Depois ela foi reciclada e a ganhei de novo num outro Natal em que eu tinha uns 7 anos. Mas, aos 8 e poucos anos, ela já não atendia às minhas necessidades e desejei obstinadamente outra bicicleta, com mais recursos (giro livre do "pinhão" e freio). Ganhei, enfim, a bicicleta pretendida aos 10 anos (a da segunda foto). Era de tamanho médio, Caloi, verde (cor do Clube Náutico Almirante Barroso - único time de futebol por que torço até hoje, mas que não joga futebol há mais de trinta anos: em todo esse tempo, portanto, nunca sofri com uma derrota, nem vibrei com uma vitória) e com ela percorri todos os cantos de Itajaí.
Itajaí é um lugar plano, de modo que se percorre facilmente toda a cidade de bicicleta. Talvez seja por isso que, até hoje, quando a população está perto dos 200 mil habitantes, haja só uma empresa de transporte coletivo na cidade. Não lembro se lá há ciclovias, mas com ou sem elas, as bicicletas inundam a cidade e nunca se fez campanha para as pessoas usarem este meio de transporte (se fizeram eu nunca soube). Por isso que, quando fotografei a primeira casa de alvenaria construída em Itajaí, não consegui fazê-lo sem que houvesse bicicletas na frente (a terceira das fotos acima foi tirada por mim e José Darcy para um concurso, no começo da década de 80).
Morei em Florianópolis e depois em Blumenau. As duas cidades são montanhosas, volta e meia há uma rua que sobe outra que desce. E nem é culpa da colonização portuguesa, pois se Florianópolis foi colonizada por açorianos, Blumenau o foi por alemães. Mas nas duas cidades se constroem ou se fazem marcações nas ruas para ciclovias, campanhas para que as pessoas andem de bicicleta, admoestações para que não usem carros.
Isso me faz lembrar uma reflexão de Frans DE WAAL (Eu, primata, Cia. das Letras, 2007, p. 70): na década de 70 se via o comportamento humano como algo totalmente flexível: não natural, mas cultural. As pessoas acreditavam que, se realmente quiséssemos, poderíamos nos livrar de tendências arcaicas como o ciúme sexual, os papéis de cada sexo, a propriedade privada e, sim, o desejo de dominar.
No caso dos carros, penso que as pessoas que instituem um Dia Sem Carro acreditam que todos os que se deslocam de automóvel o fazem por diletantismo, sem outro motivo que não seja poluir o meio-ambiente.
Talvez um pouco de empatia mostrasse que há necessidades e emoções envolvidas no uso de carros. Há os que precisam trabalhar de carro, seja porque o transporte coletivo é deficiente, porque há violência nas ruas, pedintes aborrecidos etc. Ou mesmo por exigência da profissão, do patrão etc.
Há a emoção do que ficou anos esperando para comprar um carro e, agora que conseguiu, é surpreendido pela proibição de usar um bem que tanto desejou (fico imaginando se, depois de sonhar tanto com a minha bicicleta, criassem um "dia sem bicicleta". Frustrante, não?).
Que se precisa diminuir a quantidade de carros em circulação é ponto que qualquer pessoa sensata concorda. Mas não seria melhor criarmos condições para que se use um meio de transporte menos poluente e mais racional, em vez de constranger as pessoas?
A julgar pelos meus conterrâneos de Itajaí, se há condições propícias, é claro que se vai andar de bicicleta. Se o ônibus é confortável e pontual e a rua é segura, porque não usar o transporte coletivo?
Enfim, as pessoas não são tolas, mas há campanhas que parecem ignorar este pressuposto.
Pois é, funciona mais ou menos como as passeatas contra a violência, como se os comportamentos violentos fossem simplesmente fruto das pessoas não terem parado para pensar que violência não é uma boa. Daqui a pouco vão lançar o dia mundial sem furto, dia mundial sem homicídio... Quanto às pessoas não serem tolas, não podemos esquecer das que lançam essas campanhas. Abs.
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