17 de janeiro de 1990, 8h30min. Eu descia o Morro do Valagão, Canto dos Araçás, Lagoa da Conceição, onde então morava. Fumava o que seria o último cigarro destes 21 anos. De repente uma dorzinha no dedo minguinho do pé, que foi me deixando nervoso, pois eu não podia ver o que era, já que usava uma bota sete léguas. E fui ficando nervoso e a dor passou para o peito. E foi doendo. Galo, o motorista que me esperava lá embaixo para me levar a uma audiência em Lages, perguntou se doía muito. Sim, doía, era como uma faca enfiada no meio da costela. Pedi para ser levado ao Hospital. No pronto socorro disseram para eu esperar na fila. Eu disse que "não tava legal" e não podia esperar. Levaram-me para fazer um eletro-cardiograma e a médica anunciou um enfarto.
E agora?
A médica achou que eu não tinha me assustado muito com a notícia.
Mas se eu não mantivesse a calma podia bater as botas...
E foi dada a ordem de encaminhar-me para um hospital especializado, transportando-me em ambulância.
Apesar de eu nunca ter sido preso, acho que uma prisão em flagrante e uma internação de emergência devem ter semelhanças: o camarada, nos dois casos, perde a liberdade. No caso da prisão, quem lhe tira a liberdade é o policial que lhe prende em flagrante (ou qualquer do povo que efetue a prisão em flagrante - que pode e deve fazer isso) ou aquele que cumpre a ordem judicial de prisão temporária, preventiva ou após condenação (neste caso de condenação, só depois de passar pela primeira instância, pela segunda, pela terceira e pelo STF...); no caso da internação, quem lhe tira a liberdade é o médico.
Na ambulância fiquei esperando o "filme da vida", que, na época, era o que diziam acontecer antes do camarada ir dessa para a outra. Felizmente o filme não começou. Segui na ambulância. A cada lombada, ficava com medo de não chegar ao hospital. As lombadas são um problema nessas horas, pois as ambulâncias não podem voar por cima delas.
Cheguei no hospital e fui posto numa maca. Em seguida, após confirmação do diagnóstico, recebi estreptoquinase e dolantina. E apaguei. Acordando mais tarde, vi que estava vivo.
Recebi visita de parentes.
Depois foi visto que eu não tivera enfarto, mas espasmo coronariano.
Depois foi visto que eu não tivera enfarto, mas espasmo coronariano.
Como fiquei cinco dias internado, não fumei nestes cinco dias. E fui tentando ficar sem fumar cada dia que passava. E estou até hoje sem fumar, sem que a vontade tenha passado.
Ah, sim. A dor que eu senti no dedo do pé era causada por um bicho-do-pé, tirado durante a internação, por uma gentil enfermeira.
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