Algumas repartições públicas, igrejas e outros lugares têm adotado a prática de restringir o uso de telefones celulares. Vivi 40 anos sem telefone celular. Os últimos 13 anos me levaram a uma pergunta cheia de perplexidade: como sobrevivi 40 anos sem telefone celular?
É verdade que muita gente fala no celular a todo momento (acho até que "naqueles momentos"). Mas a restrição ao uso de celulares precisa ter limites. Muitas vezes pessoas que se reúnem comigo, na Procuradoria da República, ficam bastante constrangidas quando toca o celular. Advogados ensaiam um não atendimento. Mas eu lhes digo que não me importo e que eles podem perder o cliente se não o atenderem. E, quando atendem, não vejo qualquer desrespeito nisso.
Uma criança perturba muito mais uma audiência judicial ou do Ministério Público ou da Polícia, ou mesmo uma cerimônia religiosa, do que um toque de celular. E tem gente que leva crianças para as audiências (evidentemente que não me refiro às audiências que dizem respeito à situação das crianças, onde estas devem estar presentes).
Eu, nas audiências judiciais, nunca desligo o celular. Já tive que atender para receber informações importantíssimas para aquela audiência.
Não creio que um atendimento discreto, precedido de um toque silencioso (vibração) vá perturbar um ato judicial ou uma cerimônia religiosa. Pode ser caso de um atendimento urgente, cujo não atendimento traga consequências indesejadas.
Resta conjecturar se Deus aprova ou não o celular. Isto, porém, sempre admite interpretações. Um episódio ocorrido há muito tempo, me faz pensar até hoje. Armando era Ministro da Eucaristia e estava distribuindo a comunhão. Seu filho, na fila para receber o sacramento, teve uma convulsão. Armando ficou entre segurar o cálice ou atender seu filho. Optou pelo cálice. Outras pessoas acudiram o filho de Armando. Depois ele colocou o cálice no altar e foi atender seu filho. Teria Deus ficado satisfeito com a atitude de Armando? Pode ser que sim, pode ser que não. É que, um ano depois, Armando estava sozinho em casa com seu filho e este teve nova convulsão. Teve que atendê-lo nos primeiros socorros, até chegar alguém. Teria Deus dado uma segunda oportunidade a Armando para ele socorrer seu filho com toda a dedicação? Ou Deus teria reprovado a atitude de Armando, criando uma situação em que ele foi obrigado a atender seu filho? Só Deus sabe...
De qualquer modo, melhor é pensarmos na vida terrena. Um toque de celular não atendido, pode ser um pedido de socorro ou outro tipo de urgência. Quem obriga a mantê-lo desligado, deve assumir os riscos do não atendimento.
Há, é claro, situações em que o uso de celular permite fraudes ou crimes: cola em prova, avisos para roubos e furtos etc. Mas há os arroubos de autoritarismo, que são aquelas situções em que é abusiva a proibição do uso de celular. Nestas situações vale lembrar que só foi punido o uso de celular em presídios após lei; antes da lei foi dito que nada se podia fazer. Então, diante de abusos na proibição de celular, vale lembrar o art. 5º, II da Constituição: Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
Há, é claro, situações em que o uso de celular permite fraudes ou crimes: cola em prova, avisos para roubos e furtos etc. Mas há os arroubos de autoritarismo, que são aquelas situções em que é abusiva a proibição do uso de celular. Nestas situações vale lembrar que só foi punido o uso de celular em presídios após lei; antes da lei foi dito que nada se podia fazer. Então, diante de abusos na proibição de celular, vale lembrar o art. 5º, II da Constituição: Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
Dr Brandão, muito legal o texto! Também não sou radical nem com celulares, nem com fumantes. Tudo depende do contexto, não é mesmo? A propósito, quando levo meus pequenos à tiracolo sempre ligo eles no "mute", rsrsrs.
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