domingo, 30 de janeiro de 2011

Noida

Cacho de banana nascido sem ser semeado e sem defensivos agrícolas (agrotóxicos)
Um cacho de banana nasceu na bananeira que fica no terreno do vizinho, nos galhos que pendiam para o meu terreno. O jardineiro logo me disse que a banana me pertencia. Perguntei-lhe se tinha certeza e ele me disse que sim. Perguntei-lhe como sabia e ele disse que isso era o correto. Fiquei pensando se certas regras, de tão antigas, acabam se impregnando na cabeça das pessoas ou se estas regras foram feitas segundo os costumes. O fato é que assim está no Código Civil:

Seção II
Das Árvores Limítrofes

Art. 1.282. A árvore, cujo tronco estiver na linha divisória, presume-se pertencer em comum aos donos dos prédios confinantes.

Art. 1.283. As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido.

Art. 1.284. Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se este for de propriedade particular.

E ele cortou o cacho de banana.
Cortado o cacho, o que fazer com ele?
Lembrei-me que, quando criança, os cachos de banana ficavam pendurados sob um telheiro, na parte de fora da casa, mas dentro do terreno. De vez em quando, um vizinho ou um hóspede davam cabo do cacho todo. Mas em regra as bananas eram consumidas só pela família.
Agora, as casas nem têm um lugar para pendurar o cacho. Então resolvi separar as bananas em pencas. Mas, para isso, existe uma faquinha curva, que eu não tinha. Então, corta-se com uma faca qualquer. O cacho, ou o caule do cacho, porém, solta uma resina, a "noida" que eu ouvia falar em Itajaí na década de 60 e ainda hoje ouço gente falando em Blumenau e em Florianópolis. Mas "noida" não existe no dicionário. Creio que "noida" é nódoa, palavra que o Aurélio dá um sentido que parece combinar com o que imagino seja a "noida", ou seja, uma mancha. Mas já ouvi dizerem que a resina "dá noida", e também que "é noida". O fato é que é o caule do cacho de banana solta uma resina pegajosa, que mancha a roupa, a faca e é difícil de tirar da mão.
Pensei, então, na dura vida do agricultor. Gente que tem uma vida trabalhosa e que nem sempre foi agraciada com o devido reconhecimento. Pior: aos camponeses foram dados nomes pejorativos. Vilão, por morar nas vilas, em oposição aos nobres que moravam nas cidades; peão (por andar à pé), em oposição aos cavaleiros que, por terem e montarem cavalos, podiam fazer a defesa do Rei; pagãos, por morarem nos "pagos", ou seja, nos campos. E ainda hoje, na legislação, se diz que membros da Magistratura devem tratar os membros do Ministério Público com urbanidade e os membros do Ministério Público da União devem tratar a todos com urbanidade, ou seja, com modos urbanos, da cidade. Daí se conclui que o comportamento ideal para Juízes e membros do Ministério Público é o urbano e o comportamento condenado é o rural.
Ou seja, o tratamento que a sociedade dá ao rurícula ainda é uma "noida" desta sociedade...

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