domingo, 18 de outubro de 2009

A Caverna do Morcego

A Caverna do Morcego fica em Itajaí, entre a praia de Cabeçudas e a Praia Braba (Braba, foi assim que aprendi a chamá-la). Não sei como está hoje. A visita que vou narrar foi em 1974.
Ia-se a tudo de bicicleta. Então, saímos de Itajaí e fomos a Cabeçudas. Lá, no fim dapraia, perto do Iate Clube, subia-se o morro do Farol. A passagem era livre para carros até um pedaço e o trajeto todo estava liberado para pedestres e ciclistas. A partir de um ponto, havia um portão colocado pela Marinha, proibindo que se seguisse de carro.
Naquele tempo da ditadura militar era assim: a Marinha cismava de dizer que o Farol era um ponto estratégico, importante para a segurança nacional e pronto, o acesso ficava restrito. Mesmo porque "Segurança Nacional" é uma expressão muito vaga, pois era de comum sabença que, até um bicho no pé do então General Presidente da República poderia comprometer a segurança nacional.
Então subimos o morro, atravessamos pelo lado do portão que permitia a passagem de pedestres e ciclistas e descemos até a praia. Por ser uma praia retirada, ali tudo era possível: nudismo, top less etc etc.
Da praia até a caverna era uma subidinha. A entrada da caverna era um buraco no morro.
Todo mundo que tinha, na época, a minha idade (entre 14 e 17 anos) tinha ido já à caverna (naquele tempo, só os rapazes faziam aquele passeio, pois nunca soube de moças que foram). E contavam coisas muito interessantes: o tamanho da caverna, a existência de estalagmites e estalactites, os morcegos voando, enfim tudo o que nos levava a imaginar um mundo de aventura e fantasia. Por isso, era grande a curiosidade que nos movia a conhecer o lugar.
Fomos em um grupo de uns seis amigos (todo o Grupo Teatral Folk), munidos de lanterna, velas e lanche.
Subimos o pedacinho de morro que separava a entrada da caverna da praia e entramos no buraco, que dava num túnel muito estreito. Mais um metro para frente e já tínhamos que acender lanternas e velas, pois a escuridão era total. Andamos um pouco e fomos dar na primeira sala. Era muito grande para quem nunca tinha visto uma caverna: ali cabiam umas oito pessoas de pé. Dali havia acesso, mediante túneis um pouco maiores do que o primeiro, para outras duas ou três salas. E destas salas saíam outros túneis.
Pois bem, depois de olharmos as três salas, começamos a explorar os túneis. De um determinado ponto para frente, a gente só conseguia se mover rastejando. E era a partir desse ponto que os morcegos passavam voando por sobre nós. Felizmente nenhum tocou em algum dos "exploradores".
Depois de andar por umas três horas nos túneis, voltamos à primeira sala e saímos da caverna. Hoje, lembrando a idade que eu e meus amigos tínhamos e os riscos que corremos dentro da caverna, vejo que o medo aumenta com o passar dos anos. Mas, na ocasião, não tive medo.
No final de semana seguinte voltamos ao lugar e resolvemos dar uma volta ao redor do morro em que ficava a Caverna do Morcego, para ver se achávamos outra entrada. Foi uma nova aventura, pois havia pontos do morro que, para cima, era uma subida íngreme e, para baixo, pedras e mar. Foi num destes pontos que escorreguei e só o atrito do meu corpo com a superfície do morro me segurou. Felizmente tínhamos uns elásticos que, a muito custo, me deram alguma sustentação (elásticos, decididamente, não são apropriados para alpinismo, pois esticam quando deveriam ficar tensos).
E além dos pontos íngremes, ainda havia o mato, com seus bichos e insetos.
Mas completamos a volta e cheguei em casa à noite. Ao tirar a calça imunda, vi cair no chão um camundongo morto, que se alojara entre o tecido e minha perna, lá no morro.

5 comentários:

  1. Essa aventura eu já conhecia em parte. Os sobrinhos ficaram muito impressionados na ocasião. Tinha risco de vocês se perderem lá dentro?
    Abs

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  2. O risco maior era ficar entalado. Mas também poderíamos nos perder.

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  3. Boa noite Paulo

    Estou meio sem tempo para digitar algo...contudo, venho te dizer que também fiz a mesma aventura, na década de oitenta, e tinha 12 anos. Como pude ser tão corajoso ?

    Como é bom relembrar essas histórias inesquecíveis...

    Tenho que apresentar minha monografia sexta feita para receber o título de Especialista em Radiologia Odontológica e procurei na Internet uma foto da Caverna do Morcego...e acabei parando na tua narrativa...

    Tenho que voltar
    Um abraço e tudo de bom
    Luciano G da Rocha
    Cirurgião-Dentista
    Itajaí

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  4. Caro Luciano,
    Quem foi na caverna fui eu, João. O Paulo só ouviu a história.
    Mas a pergunta que não quer calar realmente é esta: como pudemos ser tão corajosos?
    Boa sorte na apresentação da monografia.
    Abraços,
    João Brandão

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  5. Olá João, muito legal esta narrativa da visita à Caverna do Morcego. Eu também estive lá em meados dos anos 60. Gostei muito de relembrar tamanha façanha.
    Abraços,
    Renato

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