Este ano percebeu-se que a mídia participa das campanhas eleitorais. Na verdade participou da vida política deste o Império e isto sempre foi uma fonte de atrito com quem estava no Poder. A primeira organização do Júri no Brasil foi para julgar crimes de imprensa (veja aqui o Decreto de 18 de junho de 1822).
Nos tempos recentes, tempos da ditadura militar, a imprensa de oposição era uma forma corajosa e heroica de dizer não ao regime. Ícone do período foi o jornal O Pasquim. Redatores seus chegaram a ser presos. Outros órgãos de imprensa foram vitimados pela censura estatal.
Com o prestígio adquirido durante o regime militar e em face da pouca representatividade do eleitorado, a imprensa durante muito tempo foi porta-voz da opinião pública. Durante alguns governos, a expressão "fritura de ministros" significava um contínuo bombardeio de notícias ruins a respeito do Ministro em desgraça, até que ele caía.
O mensalão, porém, foi um marco do fim destes tempos em que órgãos de imprensa alçavam ministros ou os derrubavam. Sob constante fogo da mídia, o Governo Lula foi objeto de doestos e labéus durante bom tempo. Mesmo que a oposição fosse acusada das mesmas práticas, o bombardeio prosseguia.
Vieram as eleições. E a reeleição de Lula mostrou que a mídia não havia alcançado o eleitor ou o eleitor não havia assimilado o recado midiático.
Uma explicação para o fato talvez esteja na pesquisa Vox Populi, de novembro de 2009, segundo a qual sites e blogues superam revistas e jornais somados. A pesquisa havia sido encomendada pelo Grupo Máquina ao Vox Populi e foram ouvidas 2,5 mil pessoas.
Segundo a pesquisa, a televisão tem 55,9% da preferência dos entrevistados, depois vêm os sites de notícias e blogues, com 20,4%, os jornais impressos, preferidos de 10,5%, o rádio, com 7,8%, as redes sociais (2,7%), as versões online dos jornais (1,8%) e as revistas impressas (0,8%).
Mas ver televisão, ouvir rádio ou ler jornais não significa que as pessoas acreditam no que estão vendo, ouvindo ou lendo. Medida a credibilidade, na mesma pesquisa, ficou assim distribuída: rádio (nota média de 8,21), sites e blogues jornalísticos (8,20), TV ( 8,12), jornais online ( 8,03), jornais impressos (7,99), revistas impressas ( 7,79), redes sociais ( 7,74) e revistas online (7,67).
Provavelmente, os órgãos de imprensa se acostumaram a exercer poder diretamente sobre os governantes e se esqueceram de que, numa democracia, é sobre o eleitor que se deve jogar a informação persuasiva. Mas a imprensa só se lembra disso em época de eleições.
Mas, também se deve levar em conta que política é para políticos e não para jornalistas. Logo, escândalos arranjados ou temas inapropriados são colocados em debate pela imprensa e geram polêmicas que acabam obstruindo a discussão dos temas que realmente interessam. Discute-se quem é ímprobo e quem não é e muitas vezes sequer se caracteriza ato de improbidade. Outras vezes, os fatos divulgados pela imprensa ou são desmoralizados ou são desmentidos, muitas vezes por gente desconhecida, saída da internet.
A credibilidade da imprensa, ainda hoje não é tratada, pela imprensa, como um bem precioso. Tempos atrás assinei uma Ação Civil Pública para mitigar a agressividade da propaganda anti-tabagista. A Folha de São Paulo sacou uma informação do nada e tentou relacionar minha ação com ela: disse que em Blumenau, cidade onde eu atuo, há uma fábrica da Souza Cruz. A Época retransmitiu a ilação construída. A insinuação tentava passar a seguinte mensagem: Blumenau é uma cidadezinha que depende da Souza Cruz; eu, em vez de agir no interesse da sociedade, agi em nome de uma empresa privada.
Como sabem os blumenauenses da pequena dimensão da Souza Cruz em relação à economia de Blumenau, a credibilidade dos dois órgãos de comunicação, naquela cidade, perdeu pontos; eu, que propus a ação por provocação de um advogado; que ou arquivava o procedimento (e não tinha motivo jurídico para isso) ou propunha a ação, também deixei de acreditar nos dois órgãos de imprensa. E tamanha era a bobagem escritas pelos dois órgãos, que limitei-me a mandar um e-mail à FSP, vez que a pretendida associação de informações era tão inverossímil, que dispensava uma ação judicial.
Em 1982 a VEJA publicava pesquisas do GALLUP que davam ampla vantagem (30%) de Esperidião Amin sobre Jaison Barreto, na eleição para governador de SC, que acabou se definindo por uma diferença de 1% em favor de AMIN. Esperei uma satisfação da VEJA aos seus leitores. Como não veio, deixei de renovar minha assinatura.
Talvez falte à mídia uma compreensão do Brasil de hoje. Talvez lhe falte entender o que querem as pessoas. Talvez lhe falte a percepção do que é necessário para estabelecer uma comunicação com o público. Se não entender, não será a internet sua ruína, mas ela virá muito mais por descuido com os desejos do leitor.
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