terça-feira, 8 de junho de 2010

OS IMBANGALAS


DIREITO E ESTADO ENTRE OS CENTRO-AFRICANOS 12

Os portugueses chamavam os imbanglas (ou bângalas) de jagas.
Os imbangalas teriam se originado de mudanças no centro do continente africano, no Chaba ou Catanga, entre os lubas e lundas. Os lundas não se conformaram com a adoção da estrutura política dos lubas, e se afastaram sob a liderança de um ou mais quingúri. Dos "quinguris" (...) conta-se tudo com o mais sanguinário exagero. Que eram ferozes como leões – "nguri" quer dizer "leão". Que retiravam sua força de multiplicados sacrifícios humanos e da antropofagia. Que, para se sentarem ou levantarem, apoiavam-se em dois punhais, que cravavam nas costas de escravos agachados.
A passagem do quingúri para o imbangala é contada de forma muito interessante por SILVA. Desmanchou-se o tecido político e o parantesco. As mães foram proibidas de ter filhos. Sem maternidade, deixava de haver parentes, passando a renovação do grupo a ser garantida por crianças adotadas ou escravizadas, que, ao crescerem, só conheceriam uma fidelidade: ao quingúri.
Parte dos imbangalas rumou para o Oeste e encontrou o reino do Libolo, que tinha uma organização guerreira ovimbunda disciplinadíssima e rigorosa, o quilombo. Os libolas (habitantes do Libolo) eram ambundos, mas absorveram ou herdaram instituições políticas do reino ovim-bundo do Culembe. O rei dos libolas era o hango e, os que nomeava seus representantes, eram denominados vunga. O poder do soberano poderia ter como um dos seus fundamentos uma espécie da exército em constante prontidão, que tinha o nome de quilombo. Essa poderosa e disciplinada máquina de guerra talvez tenha tido origem nos centros de circuncisão. Ali ter-se-ia desenvolvido, entre jovens de diferentes linhagens, um novo sistema de coesão e fidelidade, uma associação iniciática, cujos membros se ligavam por rigorosos ritos, que os faziam invulneráveis às armas inimigas. Esses ritos não teriam sido criados por um homem, mas, sim, por uma mulher, uma rainha conquistadora, Temba Andumba (Tembo a Mbumba), que os impôs numa cerimônia recordada pelos ambundos como terrível: mandou buscar uma filha ainda bebê, colocou-a num pilão e a reduziu a uma pasta, que, após misturada com certas raízes e ervas, se transformou no poderosíssimo ungüento ‘maji a samba’, um ungüento que, esfregado no corpo, o tornava invulnerável às armas inimigas. Segundo as tradições, ela teria instado os seus guerreiros a matar os próprios filhos, corta-los em pedaços e comê-los.
Na foto acima, artesanato queniano.

Notas:
1 – SILVA, Alberto da Costa e. A Manilha e o Libambo. Rio de Janeiro, Ed. Nova Franteira/Fundação Biblioteca Nacional, 2002, pp. 420, 421.

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