Origem da palavra Escravo
Em filmes, romances e novelas, normalmente se apresenta a obtenção de escravos na África como sendo unicamente pela razia. Esta maneira de apresentar o fato histórico acaba – por ser maniqueísta – colocando a responsabilidade em só um dos envolvidos: o não africano. Além disso, imbeciliza o que é escravizado por esse modo: se deixa apanhar e não reage, submetendo-se a uma vida na escravidão.
Na realidade, sem a decidida cooperação do africano, a obtenção de escravos só mediante a razia (“caça” na selva, raptos etc) seria inviável. Há inúmeras obras sobre o tema. Uma delas é A Manilha e o Libambo, de Alberto da Costa e SILVA (Ed. Nova Franteira/Ministério da Cultura, 2002 – foto acima); outra é Em Costas Negras – Uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro, de Manolo FLORENTINO (São Paulo, Companhia das Letras, 1997). A desvantagem da razia era predominantemente de fundo econômico, pois quase sempre foi melhor negócio comprar o escravo do que correr os riscos de captura-lo (p. 19).
Há um componente cultural, também, para que viceje a escravidão, ou seja, há que ela ser aceita, para que alguém se submeta a tal situação por uma vida inteira. A idéia de que é natural existirem senhores e escravos é muito antiga: Aristóteles já dizia isso (veja a obra A Política aqui). Avicena, por volta do século X, citado por SILVA (p. 57) declarou ser da boa ordem das coisas haver senhores e escravos. Só, portanto, uma revolução econômica (ou industrial) seria capaz de movimentar e dar suporte à derrubada desta idéia de "naturalidade" da escravidão. É razoável supor, então, que motivos econômicos também estimularam o combate à escravidão e não somente a bondade dos homens.
Os africanos possuíam escravos. SILVA informa que ter escravos, na África, era sinal de riqueza e prosperidade (p. 102).
Diz, ainda, SILVA, que, segundo o historiador queniano Bethwell A. Ogot, teria sido no mundo islâmico que a pele negra se tornou símbolo de inferioridade e a África sinônimo de escravidão (p. 59). Ou seja, isto teria ocorrido entre os anos 622 e 1200, quando o islamismo surgiu no mundo e se expandiu em riqueza e território. E mais: até o século X só se usava "servus": foi depois das campanhas de Otão, "o Grande", e seus sucessores contra os povos eslavos que o grande número de cativos reduzidos à escravidão e distribuídos pelas várias partes do Império fez chamar "slavus" - "sclavus" - escravo ao servo. [conforme CAETANO, Marcello. História do Direito Português – Fontes – Direito Público (1140-1495). Lisboa, Editora Verbo, 3ª. Edição, 1992, p. 180] . Segundo SILVA (ob,. cit., p. 134), eslavo vem esclavus, escravo, esclave, esclavo, schiavo, slave e sklave. CAETANO (ob. ct., p. 181) cita as Institutas de Justiniano, I, 3, 3, para dizer que se chamava servo ao escravo porque os generais costumavam vender os prisioneiros e para isso os conservavam (em latim, "servare", conservar).
A escravidão, além de ser ruim por motivos humanitários, é ruim também por motivos econômicos, pois impede a circulação da riqueza. Felizmente acabou entre nós, ainda que tardiamente (em Portugal acabou no século XVIII).
CIAO
ResponderExcluirOriginalmente da língua vêneta (com o significado de escravo, pela corruptela da palavra latina sclavus como s'ciào), saudar com ciao significava dizer "sou seu escravo", correspondendo à saudação italiana "servo vostro" e à portuguesa “um seu criado”, fórmulas caídas em desuso, significando estou ao seu inteiro dispor.[1]
Obrigado por ter enriquecido meu blog com sua preciosa informação.
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