sábado, 15 de maio de 2010

O PODER E AS REGRAS OBRIGATÓRIAS ENTRE OS ÍNDIOS 9


Ensino da Lei e Igualdade
Os índios Botocudos tinham suas normas: idade para furar a orelha dos jovens, divisão social do trabalho segundo o sexo e a idade, regulamentação de lutas internas (1).
A forma de gravar tais regras na memória dos índios eram os rituais de iniciação, em que, mediante a dor corporal (inesquecível, especialmente por deixar cicatrizes), se fixavam os princípios da comunidade. As cicatrizes eram a marca que a sociedade indígena deixava no corpo do jovem: Nenhum de vós é inferior, nem superior. (...) Tu não és menos importante nem mais importante do que ninguém. Esta lei da igualdade é a lei primitiva (Tu não és mais do que os outros) e raros são os chefes que a transgridem. A lei é, assim, cruelmente ensinada e se torna uma vontade pessoal de cumpri-la (2). Mas a lei resulta de uma vontade social, ou seja, a sociedade tudo controla e interdita a autonomia dos que a compõem. Não há o indivíduo, mas sim o conjunto, a relação da pessoa com a comunidade. Uma observação interessante: os índios trabalhavam cerca de quatro horas por dia (3).
A foto acima é da Estátua de Iracema, na Praia do Mucuripe, em Fortaleza. Foto tirada em fevereiro de 1995. Para maiores informações sobre a estátua, clique aqui.

Notas:
1 – PARAISO, Maria Hilda B. Os Botocudos e sua Trajetória Histórica. In CUNHA, Manuela Carneiro da (org.) HISTÓRIA DOS ÍNDIOS NO BRASIL. São Paulo, Companhia das Letras: Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 2ª edição, 2002, p. 424.
2 – CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado. Tradução de Theo Santiago. São Paulo, Cosac & Naify, 2003,, pp. 195-204 e 224. De se lembrar que a ênfase que o autor dá ao princípio da igualdade entre os índios deve ser vista sob a informação de que se trata de etnólogo francês, povo que se notabilizou - no campo político-jurídico - pela revolução que propagou ao mundo moderno o princípio da igualdade.
3 - CLASTRES, obra citada, p. 212.

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