sexta-feira, 28 de maio de 2010

CORPUS CHRISTI 2

Dona Pola ligou-me, por estes dias, reclamando que o Vigário passara a procissão de Corpus Christi, em Itajaí, para depois da missa que seria celebrada às 9 horas da manhã. Estava muito aborrecida, pois – lembrou-me – sempre se fizera a procissão após a missa das 3 da tarde e, naquele novo horário, seria muito complicado fazer os tapetes, que teriam que ser começados de madrugada. Dona Pola tinha razão em parte.
Pelo menos desde a década de 1950, a Procissão de Corpus Christi ocorria em Itajaí à tarde. De manhã eram feitos os tapetes. Estes tapetes eram feitos de serragem tingida (a base principal). Mas se usava também pó de café (na verdade a borra que sobrava depois de se fazer a bebida), tampinhas de garrafa de refrigerante e outros elementos. Mas, o que mais se usava além da serragem, era o pó de café e as tampinhas. Assim, durante a procissão, o cheiro de café já aguçava o apetite para o lanche que se fazia na Igreja após a missa.
As tampinhas de garrafa eram uma diversão à parte. Eram tampas de garrafa de refrigerante e de cerveja (hoje ainda se usa nas garrafas de vidro), forradas com papel laminado, em geral prateado ou dourado (mas também de outras cores). Davam um efeito bonito nos tapetes de rua. E, durante a procissão, os meninos se engalfinhavam catando as tampinhas (que também eram chamadas “champinhas”, deturpação de chapinhas). Evidentemente que o burburinho feito pelos meninos, os empurrões e os agachamentos para pegarem as “champinhas” tiravam boa parte da concentração dos pais.
A confecção dos tapetes exigia algum trabalho prévio. Dias antes se ia às madeireiras buscar serragem (alguns tapetes usavam sipilho: eram lascas muito finas e pequenas de madeira; a serragem era o pó que sobrava do corte das madeiras). Não sei se a serragem e o sipilho eram doados ou vendidos. Creio que eram doados, pois naquele tempo (década de 1960 e início de 1970) havia muitas madeireiras em Itajaí e ainda estavam em fase embrionária os produtos feitos à base de resíduos do beneficiamento da madeira. Até uma moça que trabalhava lá em casa dizia que sua família se aquecia queimando serragem, pois a lenha era cara. Na Avenida Joca Brandão, onde hoje é a continuação da Avenida Marcos Konder, havia um terreno todo aterrado com sipilho; e a Rua João Morezi se chamava Rua do Sipilho.
Depois de se trazer a serragem para casa, ela era tingida nas cores com que se pretendia fazer o tapete. Então, ou se fazia a forma de madeira com o desenho do tapete ou se desenhava o tapete num papel, que serviria de suporte e guia no chão. As formas de madeira eram usadas para “passadeiras”, ou seja, tapetes compridos e com pouca variação. Geralmente as passadeiras ficavam na frente de terrenos baldios e casas comerciais e os tapetes mais elaborados, na frente das casas.
Algumas casas tinham altares na frente, feitos a pedido dos organizadores da procissão. Nestes altares se fazia uma parada na procissão, o Padre colocava o ostensório no altar e abençoava os presentes.

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