Os tapetes da procissão de Corpus Christi, em Itajaí, tanto podiam ser feitos na rua em frente das casas, quando dos estabelecimentos de ensino ou lojas. Nas casas, a montagem do tapete era um momento de confraternização das famílias e da vizinhança. Desde a aquisição da serragem, seu tingimento e na confecção dos tapetes, as pessoas aprofundavam seus laços familiares e de amizade. Se era nos colégios, turmas de alunos se organizavam para fazer o tapete. Um ano, participei da confecção de tapetes na frente do Colégio Salesiano. Devia ser por volta de 1972. O tapete era o escudo do Colégio, feito de serragem, fécula, “champinhas” etc. Passamos a semana anterior e o dia de Corpus Christi em função do tapete. E, enquanto fazíamos o tapete, o equipamento de som do Colégio tocava, quase que todo o tempo, “Summer Holiday”, de Terry Winter, o sucesso da época (veja aqui).
Naquele ano pude me dedicar a fazer o tapete na frente do Colégio, pois a procissão não passaria pela casa de minha família. Parece-me até que há muito tempo não passava. Então, por volta da uma hora da tarde, quando as pessoas andavam pelas ruas vendo os tapetes já prontos, meu pai passou e apreciou o tapete que eu fizera junto com os colegas. Foi gentileza paterna ter gostado do tapete que fizemos, pois os que ele projetou e executou com nossa ajuda na frente de nossa casa eram belíssimos. Houve um ano que o tapete que fizemos em casa rivalizou com o de minha prima, que morava ao lado, ela também uma artista muito talentosa. Isto deve ter sido na década de 1960 e foi por estes tempos a última vez que houve tapete, altar e procissão em grande estilo em frente da casa de meu pai.
Perguntei para Dona Pola, outro dia, se ela tinha fotos de quando a procissão passou na casa dela. Dona Pola é uma conhecida minha de muitos anos. Disse-me ela que não tinha fotos, mas se soubesse que, num dos anos da década de 1990, seria a última vez que a procissão passaria na casa em que ela morava e da qual logo se mudou, teria tirado muitas fotos. Dona Pola se mudou daquela casa porque o marido faleceu.
Ponderei a Dona Pola que teria sido muito ruim se ela soubesse que aquela seria a última vez que faria um tapete na frente de sua casa. Ela concordou e acrescentou que teria se acabado de chorar se pudesse prever o futuro.
Filosoficamente, chegamos à conclusão de que o homem seria muito infeliz se pudesse prever com certeza científica o futuro.
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