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Divisão sexual do trabalho
CLASTRES informa que os índios Guayaki, localizados no Paraguai, marcavam a divisão sexual dos trabalhos por utensílios que homens e mulheres carregavam: estas cestos, aqueles arcos. Aos quatro ou cinco anos, o menino recebe do pai um pequeno arco; aos nove ou dez anos, a menina recebe da mãe uma miniatura de cesto. Para os homens é uma vergonha carregar um cesto, para as mulheres é uma temeridade tocar um arco. O contato da mulher com o arco,atrairia para seu proprietário o pane, ou seja, o azar na caça (fundamental para a subsistência dos Guayaki), o mesmo azar se abatendo sobre o homem que tocasse um cesto. Se um homem passa a carregar cesto, deixa de ser homem e, metaforicamente, se torna uma mulher. Na época da pesquisa, dois homens estavam condenados a carregar cestos: um, porque era pane, ou seja, azarado na caça (sequer mulher tinha); ou outro, era homossexual. O pane era objeto de desprezo pelos homens, de riso pelas mulheres e não tinha o respeito das crianças; o homossexual não despertava maiores atenções. Outras regras também há entre os guayaki, cuja transgressão provocaria o pane, como, por exemplo, a proibição do caçador comer sua presa (deve dá-la para os outros e comer da caça de outro caçador). Outra regra determina que cada mulher tenha dois maridos (um principal e um secundário, situação que não é aceita de boa vontade pelos homens) (*).
A foto acima, de 2001, foi tirada no Museu do Índio de Manaus.
Nota:
* - CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado. Tradução de Theo Santiago. São Paulo, Cosac & Naify, 2003, pp. 119 a 143. Note-se que estas regras têm, segundo o autor citado, suas razões: a proibição de comer da própria caça, leva à solidariedade do grupo, pois sozinho, o homem não poderia sobreviver, já que passaria fome ao não poder comer sua caça; a poliandria se deve ao fato de um déficit crônico de mulheres entre os guayaki.
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