Novamente nosso empresariado está às voltas com o dólar baixo. Diz que perde a competitividade. A competitividade seria perdida no comércio exterior.
Talvez o problema não esteja só no que se vende lá fora. O fato é que o comércio aqui de dentro não consegue competir com o comércio lá de fora. Ainda se pratica aqui, na medida do possível, um capitalismo sem risco. Há produtos que não se acha aqui no nosso comércio, ou que se acha com menos qualidade.
Nos tempos de comércio fechado, coisa da década de 70, das décadas anteriores, havia uma expressão muito comum: similar nacional. Só podia importar se não houvesse o similar nacional. Qualquer porcaria feita aqui podia barrar uma importação de melhor qualidade.
Com a abertura do país, nos começos dos anos 90, foi um festival de falências. Gente que denunciei por sonegação de tributos, dizia que foi à bancarrota por não suportar a concorrência exterior. Nas audiências, eu perguntava se o parque fabril da empresa sonegadora havia se modernizado. A resposta era invariavelmente não. Ou seja, por conta do mercado interno fechado, com "similares nacionais" tendo garantia de venda, não se comprava máquinas e a qualidade dos produtos desandava.
Agora, ainda enfrentamos dificuldades para comprar coisas. Há produtos que não há no Brasil, e abundam no exterior. Suspensórios de abotoar, por exemplo, se acha em Lisboa, em Nova York, em Santiago de Compostela, em Maiami, e em muitas cidades da Itália (os mais bonitos estão lá). Aqui, só de presilha. Tênis Adidas Climacool são outro problema. Nas lojas nacionais chegam a dizer que não se fabrica mais. Entretanto, até em lojas da internet, sediadas no exterior, o produto existe.
Um dia vi na Galeria Lafaiete, em Paris, umas bolas de Natal brancas, lindas. Tinham uma textura límpida, clara, brilhante, eram bolas muito bonitas, enfim. Procuro o produto desde 2008, por aqui e nunca achei.
Agora, que mais e mais brasileiros estão viajando para o exterior, a falta de competitividade do nosso comércio local vai ficar mais evidente e mais gente vai voltar pra cá abarrotada de malas, e impressionada com a variedade do que se pode comprar.
Certamente logo o empresariado vai pedir redução de impostos e facilidades fiscais. O contribuinte vai pagar pela falta de competitividade.
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