É importante registrar que, segundo MAXWELL, em Portugal, Iluminismo, racionalidade e progresso têm um significado muito diferente do costumeiramente conhecido para outros países da Europa. Esta diferença diz respeito, segundo o mesmo autor, ao poder do Estado, que cresceu em Portugal, enquanto diminuía naqueles países, de modo que a história da administração de Pombal é um antídoto importante para a visão excessivamente linear e progressiva do papel do Iluminismo no século XVIII na Europa... Além disso, interessantíssima é outra observação de MAXWELL, segundo a qual, na Europa central, oriental e meridional (...), o Iluminismo casou-se mais vezes com o absolutismo do que com o constitucionalismo(1).
É interessante notar que, apesar do papel preponderante que a burguesia teve na Revolução Francesa, no Portugal do século XVIII foi o Estado que criou a burguesia, e não, como na América britânica, a burguesia que restringiu o Estado, conforme assinala MAXWELL (p. 170-172).
Para se ter uma idéia melhor dos valores que FERREIRA FILHO aponta como sendo exaltados pelo Iluminismo, convém fazer um quadro comparativo de seus opostos:
VALORES DO ILUMINISMO | VALORES OPOSTOS AO ILUMINISMO |
Individualidade (vida e direitos próprios, sem se fundir com a coletividade) | Personalismo Vinculação à totalidade social, complementaridade aos outros, fusão com a coletividade(2) |
Racionalidade (rejeição do que não pode ser explicado objetivamente) | Emotividade (agir segundo as emoções – obedecer por amor ou temor, p.ex.) |
Mundo governado por leis naturais | Mundo governado por leis sobrenaturais (crença no sucesso ou fracasso em face de sorte ou azar, p. ex.) |
Felicidade na terra e não no céu | Felicidade no céu e não na terra (crença na justiça divina corrigindo as falhas dos juízes terrenos, p. ex.) |
Otimismo quanto ao futuro, pois o homem está sempre em progresso | Pessimismo quanto ao futuro (acreditar que o futuro será pior que o presente) |
Observe que há diferenças entre um quadro e outro, ou seja, há os valores do iluminismo e os que não são do iluminismo. |
Notas:
1 – MAXWELL, Kenneth. MARQUES DE POMBAL – PARADOXO DO ILUMINISMO. Tradução de Antônio de Pádua Danesi. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996, pp. 170-172
2 - DA MATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis – Para Uma Sociologia do Dilema Brasileiro. Rio de Janeiro, Zahar Ed., 1983, p. 175.
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