Em tempos em que não havia televisão, era costume dormir cedo. Mesmo na Sexta-Feira Santa, que era antecedida por uma noite de muitas atividades na Igreja, se acordava bem cedo. Então, tomávamos o café da manhã e íamos, eu e meu pai, para a Igreja. Eu deveria ter uns quatro ou cinco anos, pois lembro que não tinha idade para ser coroinha (estávamos nos primeiros anos da década de 1960). No largo da Matriz já estava praticamente pronta a estrutura do Calvário. Não lembro quando começavam a construir, mas devia ser na Quita-Feira Santa. Era uma armação de madeira imitando um morro. Em alguns anos, a subida era por uma escada (de madeira, com degraus etc) que contornava a parte da frente do monte. Em outros anos era uma rampa (mais difícil de subir e descer) – ver as fotos acima. Estas mudanças ocorreram num intervalo de 4 ou 5 anos.
Creio que o Calvário de madeira tinha uns 3 ou 4 metros de altura (ver as fotos acima). Isto porque, na parte de baixo, era feito o Sepulcro. Assim, se fazia a descida da Cruz, a procissão do Senhor Morto e, na volta, a imagem era depositada neste Sepulcro (ou seja, debaixo do calvário se fazia uma imitação de gruta, com um nicho, onde era depositada a imagem do Senhor Morto). O calvário de madeira ficava do lado esquerdo de quem olha a Igreja Matriz do SSmo. Sacramento e o nicho ficava também do lado esquerdo da gruta.
A armação de madeira era forrada com um tecido cinza, que imitava granito, sobre o qual eram colocados diversos arbustos naturais, para imitar a vegetação do Gólgota. O custo de tudo isso devia ser alto: madeira, tecido, vegetais, mão de obra... A reiterada construção do calvário, ano após ano, até fins da década de 1960, demonstra a riqueza de Itajaí naquele tempo. Suponho que a madeira era fornecida, provavelmente de graça, pelas inúmeras madeireiras que existiam (a cidade tinha um porto que exportava muita madeira); o tecido talvez fosse doado pela Tecita (Tecelagem Itajaí) e a mão de obra talvez também fosse de graça. Mas isto são suposições. Nunca me ocorreu perguntar isso para as pessoas que realizavam a obra: primeiro que, quando eu era criança, a informação não me importava; e, quando a informação passou a me importar, as pessoas que poderiam ma dar já haviam morrido.
A ida de meu pai de manhã se destinava a supervisionar a obra e ensaiar a encenação da descida da cruz. Eu, como se dizia na época, ia somente piruar. Depois de ensaiar a descida da cruz (os “atores” eram ou alunos de meu pai ou eram jovens da comunidade), eu acompanhava meu pai na visita às casas que tinham sacada, para pedir aos donos autorização para a Verônica cantar à noite).
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