Do Século V ao Século VIII o atual território português foi dominado pelos Visigodos, em decorrência, inicialmente, de uma aliança destes com os romanos.
Os godos eram um povo germânico originário das regiões meridionais da Escandinávia. (...) O povo godo aban-donou a região do rio Vístula, que corresponde à atual Polônia, (...) na segunda metade do século II. (...)
Os godos que viviam entre os rios Danúbio e Dniester receberam o nome de visigodos. Os do outro ramo, que no século IV se haviam estabelecido na área que viria a ser a Ucrânia, foram denominados ostrogodos (...).
Os Visigodos, depois de muitas conquistas, estabeleceram-se, após o ano de 410, sob o reinado de Ataulfo, no sul da Gália e na Hispânia. Em 475, Eurico declarou-se monarca independente do reino visigodo de Tolosa (Toulouse), que incluía a maior parte das Gálias e a Espanha. (...) Eurico cumpriu uma monumental tarefa legislativa ao reunir as leis dos visigodos, pela primeira vez, no Código de Eurico, conservado num palimpsesto em Paris. Seu filho Alarico II codificou, em 506, o direito de seus súditos romanos, na Lex romana visigothorum, mas carecia dos dotes políticos do pai e perdeu quase todos os domínios da Gália em 507, quando foi derrotado e morto pelos francos de Clóvis, na batalha de Vouillé, perto de Poitiers. Desmoronou então o reino de Tolosa e os visigodos foram obrigados a transferir-se para a Espanha.
(...) O domínio total da Península Ibérica pelos visigodos quase se concretizou durante o reinado de Leovigildo, mas ficou comprometido pelo problema religioso: os visigodos professavam o arianismo (1) e os hispano-romanos eram católicos.(...) Mas esse obstáculo para a fusão com os hispano-romanos se resolveu em 589, ano em que o rei Recaredo proclamou o catolicismo religião oficial da Espanha visigótica.” (...). Fonte: Encyclopaedia Britannica
Este registro, talvez seja indicativo das diferenças que passaram a existir entre os europeus ocidentais a partir do ano 507, quando os visigodos foram derrotados pelos francos de Clóvis, na batalha de Vouillé e expulsos da região que veio a ser a França. Ou seja: de um lado se desenvolveram francos e anglo-saxões e outros povos germânicos. De outro, os ibéricos. Até então já tínhamos, na região que hoje é Portugal, a cultura lusitana, a romana e, agora, a visigótica. Entre os visigodos e os romanos (assim considerados os que habitavam a Península Ibérica), o Fuero Juzgo admitia casamentos, o que permitia uma miscigenação entre povos(2).
A foto acima é de Toledo (Espanha), que foi a capital do Reino Visigótico.
Notas:
1 - O arianismo é uma doutrina cristológica pregada por Ário. Ário nasceu, provavelmente, na Líbia, por volta de 256-260. Foi sacerdote ou presbítero cristão. O arianismo pregava que Jesus não foi gerado por Deus, mas adotado por Deus: Ário afirmava a existência de um único Deus, o Pai, eterno, absoluto, imutável, incorruptível. Este Ser Supremo e Absoluto, não pode comunicar (...) seu Ser, nem mesmo parcelas dele, nem por criação, nem por geração. Se Deus não é corpo, não pode ser composto, divisível. Assim, é impossível a Deus gerar um filho. Para criar o mundo, Deus criou um ser intermediário, o Logos. Jesus não era eterno como Deus, nem da substância de Deus. Jesus era uma encarnação do Logos e foi adotado como Filho de Deus. Aquele Logos que se fizera homem, que se contaminara com um corpo humano, não podia ser Deus como o Pai, que é incorruptível, intemporal, puro, eterno e incomunicável. Por volta do ano 320 Ário foi condenado pelo bispo de Alexandria, mas sua doutrina difundiu-se mais ainda, especialmente entre o povo. Isto abalou a paz e a unidade da Igreja cristã, com riscos para a unidade do Império Romano. Em 340 ocorre um retorno do arianismo, por força de Constança, irmã do imperador Constantino, que era ariana. Com a morte de Ário, o arianismo se dividiu em várias tendências, sendo a homeusiana uma delas. A Igreja ariana, na vertente homeusiana, ultrapassou as fronteiras do império romano. O mais conhecido destes missionários arianos homeístas (admitiam que o Filho era de uma substância semelhante, mas não idêntica à do Pai) foi Úlfilas, germano, do povo dos godos, que habitavam a região Norte do Danúbio. O bispo ariano Eusébio conferiu-lhe a consagração episcopal. Úlfilas retornou, então, a seu próprio povo. Entre suas atividades, destaca-se o fato de ter elaborado o alfabeto gótico, de ter traduzido a Bíblia para sua língua e lançado as bases de uma igreja gótica. Foi Teodósio I quem varreu o arianismo do Império Romano, em 380. Numa carta, do ano de 380, determinou a crença na única divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo em igual majestade e em Trindade santa. E autorizou aos seguidores desta crença a tomarem o título de cristãos católicos. Mas, se o arianismo desapareceu como doutrina oficial da igreja e do Império Romano do ocidente, sobreviveu por muito tempo entre os visigodos, ostrogodos, vândalos, burgúndios e longobardos. Fonte: FRANGIOTTI, Roque. História das Heresias (séculos I-VII) conflitos ideológicos dentro do cristianismo. São Paulo, Paulus, 1995, pp. 85-98.
2 – O cuidado dos príncipes é cumprido quando eles pensam no proveito do povo, e eles não se devem alegrar quando a sentença da lei antiga é quebrada, a qual quer impedir o casamento das pessoas que são iguais por dignidade e por linhagem. E por isto revogamos a lei antiga, e colocamos outra melhor; e estabelecemos por esta lei que há de valer para sempre, que a mulher romana pode casar com homem godo e a mulher goda pode casar com homem romano. – Fuero Juzgo, L 3, T 1, I.
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