sábado, 3 de abril de 2010

Sábado de Aleluia


Não lembro de ter visto em Itajaí, na minha infância (década de 1960), a malhação de Judas. Se havia, nunca soube.
Mas havia as encenações da Ressurreição de Jesus. Não sei se havia todos os anos, mas uma me marcou muito. Foi feita usando a estrutura de andaimes montados para construir o Salão Paroquial. Naquele ano (devia ser 1965 ou 1966), o Calvário foi montado ao lado direito da Igreja Matriz do Santíssimo e aproveitou-se a estrutura do Gólgota de madeira e pano para, no lugar da crucificação, colocar-se um sepulcro (também de madeira e pano). Talvez até tenha sido o mesmo sepulcro usado no Rosário Vivo (uma outra encenação feita no campo do Marcílio Dias, no dia 28 de novembro de 1964), que é o da foto acima.
Os atores que fariam a encenação da ressurreição se vestiam no antigo salão paroquial (usado como, digamos, camarim). Como o Calvário ficava muito perto desta sala, dava para alguém ir dela ao “Gólgota” rapidinho, sem que a multidão de espectadores notasse. Assim, depois que o rapaz que faria o papel de Jesus Ressucitado ficou pronto (ou seja, colocada a túnica, as barbas postiças e pintadas as chagas), meu pai o orientou para que ele fosse para baixo do calvário. Ali havia uma escada interna, que ia dar dentro do túmulo. A rapaz subiria por ela e apareceria saindo do Sepulcro. Mas isto só aconteceria num dado momento da Cerimônia Religiosa, durante a qual era usado muito incenso. Lembro-me que o sacristão alimentava um braseiro feito em lata de cera vazia, do qual o coroinha que cuidava do turíbulo ia tirando brasas para queimar o incenso. E, no momento oportuno, o turíbulo era levado para dentro da Igreja. Esta função de mexer com brasas, atiçá-las e coloca-las no turíbulo era muito interessante e agradável, ainda que fosse mais para ver do que participar (eu era muito pequeno, então, para mexer com fogo).
Enquanto estávamos nesta função de atiçar brasas, alguém me chamou a atenção para tochas que apareciam no Morro da Cruz (era de noite, cerca de 21 horas, de modo que as tochas produziram em mim um efeito aterrorizante).
Como a cidade era pequena e silenciosa, também dava para ouvir o barulho de tambores vindo de cima do Morro. E as tochas executavam uma dança ou um ritual, que parecia que os que as seguravam subiam por cima uns dos outros. Os rapazes maiores trataram de atiçar o medo dos menores. E ficaram me dizendo que era uma sessão de macumba, que um macumbeiro subia em cima dos outros e que os tambores eram para chamar os espíritos e desacatar a cerimônia religiosa católica.
Nunca consegui saber se aquela dança de tochas em cima do morro foi um ritual religioso ou uma brincadeira de guris mais arrojados. Ficou na minha memória o movimento do fogo das tochas, a dança que com elas se fazia e o barulho dos tambores.
Quanto à cena da Ressurreição, tudo deu muito certo: o rapaz subiu a escada e apareceu para a multidão atônita que, sem o ter visto ir para baixo do Calvário, só o percebeu como Cristo Ressuscitado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário