quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dia do Trabalho 2

Em Max WEBER (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Trad. M. Irene de Q. F. Szmrecsányi e Tamás J.M.K. Szmrecsányi, Livraria Pioneira Editora, SP., 4 ed., 1985, pp. 128-129) se vê que, para a religião protestante, o trabalho é um meio excelente, quando não único, de atingir a certeza da graça. E, para calvinistas e batistas, o trabalho e a industriosidade são um dever para com Deus.

Na Encíclica Laborem exercens, de 1981, o Papa João Paulo II, em vários momentos, vê o trabalho como forma do homem de ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Mesmo reconhecendo que o trabalho é um bem e que, pelo trabalho, o homem se assemelha a Deus na obra da Criação, ainda assim, o Papa João Paulo II associava o trabalho à fadiga. E, num trecho da Encíclica Laborem exercens lembra que o Livro do Gênesis contrapõe à benção original do trabalho, a "maldição" que o "pecado" trouxe consigo: "Maldita seja a terra por tua causa! Com trabalho penoso tirarás dela o alimento todos os dias da tua vida". (...) "Comerás o pão com o suor da fronte, até que voltes à terra da qual foste tirado...".

Estas duas concepções do trabalho podem ser associadas a modos de vida de dois povos: os estadunidenses, majoritariamente protestantes, e os brasileiros, majoritariamente católicos. E uma forma de contemplar os modos de vida de cada um destes povos é o pano de fundo dos enredos dos filmes (nos EUA) e das novelas (Brasil). Nos filmes estadunidenses, em geral, a trama se desenvolve em torno do trabalho. Ou, se o trabalho não é o centro do enredo, pelo menos as pessoas aparecem trabalhando e têm uma profissão. Nas novelas brasileiras, o comum é as tramas acontecerem fora do trabalho, no mundo familiar ou do lazer. Raramente as pessoas aparecem trabalhando e, se aparecem, não aparentam muito entusiasmo com suas ocupações.

Outro ponto de observação interessante é o zelo pelo trabalho: se o trabalho é uma forma de atingir a certeza da graça ou é um dever para com Deus, decorre daí que Deus vê quem está trabalhando. Logo, não adianta fingir que se trabalha, ou “matar” o serviço: se o trabalho é um dever para com Deus, deve ser realizado com dedicação e eficiência, pois – do contrário – será uma atividade pecaminosa. Por outro lado, se o trabalho é um castigo decorrente do pecado, se ele não está associado a Deus, se Deus não se importa com o trabalho, ele pode ser feito de qualquer modo, seja fingindo que se está trabalhando, seja matando o serviço. Se o trabalho não é um dever para com Deus, será indiferente para o Criador se for realizado com ou sem dedicação e eficiência: mesmo um trabalho mal feito, nunca será pecaminoso.
Isto tudo não significa que todo protestante é um dedicado trabalhador ou que todo católico não trabalha de boa vontade. Significa, apenas, duas visões de duas religiões sobre o trabalho e as possibilidades destas visões influenciarem culturas e pessoas.

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