quinta-feira, 25 de março de 2010

Diretas Já




O final de 1983 e o começo de 1984 foram politicamente movimentados por conta da campanha pelas eleições diretas. A campanha foi num crescendo, a ela aderindo os meios de comunicação, mais por pressão dos acontecimentos do que por vontade própria. Aqui em Santa Catarina, vários órgãos de imprensa fizeram cadernos específicos nos jornais escritos ou reservaram espaços nos meios de comunicação de som e imagens. Na época, tudo só repercutia na imprensa. Não era como hoje, que alguma coisa pode não repercutir na imprensa, mas pode fazer sucesso na internet.
O Jornal de Santa Catarina criou um caderno chamado Jornal das Diretas. Não lembro se houve uma ou mais edições, mas a que aparece na reprodução acima é de 14 de janeiro de 1984. Foi neste dia ou perto dele que houve um comício monstro em Balneário Camboriú. Comparecerem Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e outras figuras políticas de destaque nacional ou local. Não faltaram, nas imediações do comício, os arapongas do regime militar registrando em fotos ou em papel quem estava lá e o que fazia (em geral, estes arapongas eram policiais lotados no que se chamava "setor de informações", nome pomposo que servia para identificar onde trabalhavam os que bisbilhotavam a vida de quem era contra o governo de então).
Mas o Jornal das Diretas entrevistou os que eram tidos por "formadores de opinião" (políticos, jornalistas, sindicalistas, padres, empresários, professores). Na verdade, não sei se há pesquisa científica demonstrando que, no Brasil, há quem forme a opinião dos outros. Penso que um vizinho ou um parente forma a opinião de outro vizinho ou de outro parente, mas daí a existirem figuras públicas, com carisma suficiente para mudar opiniões de multidões, acho difícil.
Das pessoas entrevistadas que aparecem na reprodução da folha de jornal, acima, muitas depois se candidataram a cargos eletivos, ganharam e perderam eleições; umas estão em atividade até hoje, outras saíram de atividade, outras morreram.
As diretas foram vistas como panacéia. Veja-se que há uma matéria, na página acima, chamada "A solução para a crise", segundo a qual, economistas brasileiros defenderam a idéia de que, com democracia, viveríamos melhores condições econômicas. De fato, hoje, na democracia, o país está mais rico e próspero do que na época da ditadura.
Mas a campanha seguiu em frente e o regime militar se viu tão acuado que, no dia da votação da emenda constitucional, deu uma das então habituais demonstrações de força bruta, colocando um ostensivo e belicoso policiamento em Brasília e outras capitais.

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