sexta-feira, 26 de março de 2010

Domingo de Ramos 1


Quando me lembro da procissão de Ramos vem-me à memória um sábado chuvoso, no qual eu e mau pai fomos a diversas casas pedir palmas (ou seja, pedir doações de ramos de palmeiras, que seriam usados na igreja no dia seguinte). Nem os pedidos de palmas deviam ser comuns nos nossos hábitos de semana santa, nem o destino deles devia sê-lo. É que meu pai recém comprara seu primeiro carro (um DKW vermelho com o teto branco; era o hoje chamado sedan). E não era uma tradição a procissão sair da Igreja Velha para a Igreja Nova, que eu soubesse. Nem sei se era costume fazer a procissão de Ramos em Itajaí. Mas, naquele ano, o bagageiro do DKW logo foi se enchendo de palmas ou ramos. Preferíamos as que não tinham espinhos, mas, na falta destas, levávamos as com espinho. Lembro de uma casa amarela em que fomos, com um jardim na frente, uma varanda com entrada em forma de arco, uma ou duas águas-furtadas no segundo andar, situada na Rua Samuel Heusi. O jardim tinha caminhos com pedregulhos brancos e as flores, folhagens e plantas ficavam em pequenos canteiros, onde havia também as palmeiras. Batemos palmas, uma mulher veio nos atender e pedimos palmas, explicando que eram para a Igreja. Elas nas cedeu, como em outras casas nas cederam. Colocamos no bagageiro do DKW e fomos para a Igreja Velha (apelido da Igreja da Imaculada Conceição), onde as palmas foram amontoadas na sala em que ficava a pia batismal. Pia que estava em desuso, desde 1955, quando fora inaugurada a Igreja Nova (apelido da Matriz da Paróquia do Santíssimo Sacramento).
Meu pai explicou-me que as palmas coletadas pela Igreja e usadas no Dia de Ramos (comemoração da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém) eram bentas e, depois de secas, queimadas, sendo suas cinzas guardadas e distribuídas na Quarta-Feira de Cinzas do ano seguinte. De fato isto é verdade (veja aqui, aqui e aqui). A distribuição era feita pelo Padre, que colocava um pouco de cinza na testa das pessoas. Já as palmas levadas pelas pessoas recebiam uma benção coletiva. Estas palmas eram trazidas para casa, cada qual fazendo o uso religioso que lhe aprouvesse. O avô de minha esposa, por exemplo, as guardava debaixo do colchão e as colocava nas janelas durante as tempestades.
A foto acima é encenação da entrada de Jesus em Jerusalém, na Via Sacra que dirigi em 1981, em Itajaí. É esta entrada em Jerusalém que se comemora no Domingo de Ramos.

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