A Procissão do Encontro segue um roteiro de eventos e trajetos, que, ainda com variações, são os mesmos tanto em Itajaí quando em Florianópolis. Mas os tempos que mais me enternecem são os da minha infância, na década de 1960. No sábado à tarde, Seu Capela e Seu Manoel Lima iam à nossa casa, de onde saíam com meu pai para a Igreja da Imaculada Conceição (a Igreja Velha). Eu ia junto. Com cerca de 6 ou 7 anos de idade, ia mais para ver, do que para realizar algum trabalho (eu era devidamente alertado para só olhar, não incomodar, não mexer no que não devia e, se possível, ajudar nalguma coisa; enfim, os adultos estavam fazendo um favor em levar uma criança, que deveria retribuir a tal favor não incomodando). Mesmo com tais restrições, eu gostava muito, muito mesmo, de estar junto com meu pai e as demais pessoas que iam preparar a imagem do Senhor dos Passos.
As três imagens (do Senhor dos Passos, de Nossa Senhora das Dores e do Senhor Morto) ficavam o ano inteiro num grande nicho da Igreja Velha (assim chamada porque fora a Matriz e, com a construção da Igreja Nova, passou a ter “status” de capela).
Pois bem, saía-se da nossa casa e ia-se para a casa da Dona Áurea buscar a chave da igreja. Dona Áurea era a Zeladora da Igreja Velha. Ela cuidava do altar e das missas e sua irmã, Rosinha, cuidava do coro e dos sinos da Igreja. Para mim pareciam ser muito idosas. Hoje, fazendo as devidas estimativas, creio que estivessem na faixa dos 60 anos. Não sei se Dona Áurea cuidava da Igreja gratuitamente ou recebia algum pagamento para isso.
Geralmente Dona Áurea ia junto conosco para a Igreja ou não a encontrávamos em casa, pois já estava nos esperando lá. Sua presença era fundamental, porque era ela que sabia onde eram guardadas as alfaias e os percevejos para prendê-las no andor (percevejos eram tachinhas de metal, douradas). E sabia também onde estava a chave do compartimento da igreja em que estavam os andores. Aqueles andores eram de madeira, com encaixes para os varais; eram forrados de um tecido verde, com enchimentos pintados de cinza, para imitar pedras. Esta forração fora feita por meu pai.
No sábado era preparado apenas do andor do Senhor dos Passos: o andor era colocado sobre bancos da igreja; depois se trazia a imagem, que era fixada no andor (havia umas travas de ferro em forma de “L”, chatas numa ponta e com rosca na outra; o “L” travava a imagem e as roscas eram apertadas por baixo do andor, de modo a fixar a imagem). Depois eram encaixadas umas varas de madeira em furos que já existiam no andor. Eram varas verticais que serviam para prender um pano roxo que cobria a imagem de todos os lados. Assim, após a fixação das varas e do pano roxo, não se via mais a imagem do Senhor dos Passos: somente um pedaço da cruz que sobressaía do pano roxo. Este tampão era posto só no sábado. Domingo a imagem vinha descoberta na procissão. Terminado o andor, todos iam para casa se preparar para a "procissão" do sábado (oficialmente não se tratava de uma de procissão, mas sim de um traslado).
O andor da foto acima já é outro, mais moderno e mais leve.
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