sexta-feira, 11 de junho de 2010

O QUILOMBO

DIREITO E ESTADO ENTRE OS CENTRO-AFRICANOS 15

O quilombo (famoso no Brasil como local em que se juntavam escravos fugitivos) não era, também entre os africanos, um conglomerado de membros de um povo ou nação: apesar de não ser abrigo de escravos fugitivos, era uma comunidade guerreira, sem laços de parentesco. O quilombo, na África, era um sistema militar de iniciação; a entrada para o quilombo significava o fim dos vínculos de linhagem, passando as crianças a serem educadas pela comunidade (quando não eram assassinadas ou abortadas). Os Mbangala criaram os ritos e leis (quigila/kijila) dos quilombos (1). Entre os ritos estava o canibalismo (2), abstinência de carnes de porco, de elefante e de serpente. O sacrifício de crianças, já narrado em outra postagem – extraído da obra de SILVA, Alberto da Costa e. A Manilha e o Libambo. Rio de Janeiro, Ed. Nova Frantei-ra/Fundação Biblioteca Nacional, 2002 – é também narrado por PARREIRA: Um dos rituais do quilombo, obrigava ao sacrifício de uma criança que devia ser pisada no pilão e reduzida a uma massa informe, à qual se juntava ervas, raízes e uns pós. A massa de carne humana, depois de fervida e atingir a consistência desejada, era chamada maji-a-osamba, a pomada mila-grosa, com que os homens se deviam untar antes de partirem para a guerra. Outra lei kijila associava os gêmeos ao infortúnio e ao mau presságio, de modo que estes e os deficientes físicos eram sacrificados logo após nascerem (3). Os quilombos brasileiros possuíam algumas características dos quilombos Mbangala (4), havendo grande semelhança entre as táticas de guerrilha dos ambundos de Angola e as dos palmaristas (5).

Notas:
1 - HEINTZE Beatrix. Angola nas garras do tráfico de escravos: as guerras do Ndongo (1611-1630). Em REVISTA INTERNACIONAL DE ESTUDOS AFRICANOS, Lisboa, Editora Jill R. Dias, nº 1, janeiro/junho 1984, p. 44. Quigila ou Kijila, em kimbundo, quer dizer proibição
2 - SOUZA, Marina de Mello e. Reis Negros No Brasil Escravista. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2002, p. 104.
3 - PARREIRA, Adriano. ECONOMIA E SOCIEDADE EM ANGOLA Na Época da Rainha Jinga Século XVII. Lisboa, Editorial Estampa, 1997, pp. 153 e 154.
4 - PANTOJA, Selma. NZINGA MBANDI – MULHER, GUERRA E ESCRAVIDÃO. Brasília, Thesaurus, 2000, pp. 99, 100, 155, 157. Os Mbangala eram povos do interior do continente africano, da região dos Lunda (obra citada, p. 98).
5 - SOUZA, Marina de Mello e. Reis Negros No Brasil Escravista. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2002, p. 113.

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