segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Mantenha Desligado o Celular!

Algumas repartições públicas, igrejas e outros lugares têm adotado a prática de restringir o uso de telefones celulares. Vivi 40 anos sem telefone celular. Os últimos 13 anos me levaram a uma pergunta cheia de perplexidade: como sobrevivi 40 anos sem telefone celular?
É verdade que muita gente fala no celular a todo momento (acho até que "naqueles momentos"). Mas a restrição ao uso de celulares precisa ter limites. Muitas vezes pessoas que se reúnem comigo, na Procuradoria da República, ficam bastante constrangidas quando toca o celular. Advogados ensaiam um não atendimento. Mas eu lhes digo que não me importo e que eles podem perder o cliente se não o atenderem. E, quando atendem, não vejo qualquer desrespeito nisso.
Uma criança perturba muito mais uma audiência judicial ou do Ministério Público ou da Polícia, ou mesmo uma cerimônia religiosa, do que um toque de celular. E tem gente que leva crianças para as audiências (evidentemente que não me refiro às audiências que dizem respeito à situação das crianças, onde estas devem estar presentes).
Eu, nas audiências judiciais, nunca desligo o celular. Já tive que atender para receber informações importantíssimas para aquela audiência.
Não creio que um atendimento discreto, precedido de um toque silencioso (vibração) vá perturbar um ato judicial ou uma cerimônia religiosa. Pode ser caso de um atendimento urgente, cujo não atendimento traga consequências indesejadas.
Resta conjecturar se Deus aprova ou não o celular. Isto, porém, sempre admite interpretações. Um episódio ocorrido há muito tempo, me faz pensar até hoje. Armando era Ministro da Eucaristia e estava distribuindo a comunhão. Seu filho, na fila para receber o sacramento, teve uma convulsão. Armando ficou entre segurar o cálice ou atender seu filho. Optou pelo cálice. Outras pessoas acudiram o filho de Armando. Depois ele colocou o cálice no altar e foi atender seu filho. Teria Deus ficado satisfeito com a atitude de Armando? Pode ser que sim, pode ser que não. É que, um ano depois, Armando estava sozinho em casa com seu filho e este teve nova convulsão. Teve que atendê-lo nos primeiros socorros, até chegar alguém. Teria Deus dado uma segunda oportunidade a Armando para ele socorrer seu filho com toda a dedicação? Ou Deus teria reprovado a atitude de Armando, criando uma situação em que ele foi obrigado a atender seu filho? Só Deus sabe...
De qualquer modo, melhor é pensarmos na vida terrena. Um toque de celular não atendido, pode ser um pedido de socorro ou outro tipo de urgência. Quem obriga a mantê-lo desligado, deve assumir os riscos do não atendimento.
Há, é claro, situações em que o uso de celular permite fraudes ou crimes: cola em prova, avisos para roubos e furtos etc. Mas há os arroubos de autoritarismo, que são aquelas situções em que é abusiva a proibição do uso de celular. Nestas situações vale lembrar que só foi punido o uso de celular em presídios após lei; antes  da lei foi dito que nada se podia fazer. Então, diante de abusos na proibição de celular, vale lembrar o art. 5º, II da Constituição: Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Faltou energia elétrica em Jurerê

Faltou energia elétrica em Jurerê Internacional. Tentei ver na internet, via Google, achar alguma notícia. Nada. Liguei para a CELESC. Nada consegui saber sem antes fornecer o número da unidade consumidora, endereço etc. Pois bem. Depois de tudo informado, a moça disse que está faltando energia em várias ruas, que a CELESC está ciente do problema, mas não tem previsão de quando haverá o restabelecimento da eletricidade. Assim, como nenhum órgão de comunicação informou, fica informado.
O fornecimento de energia elétrica foi restabelecido por volta das 12 h do dia 30.1.11.

Noida

Cacho de banana nascido sem ser semeado e sem defensivos agrícolas (agrotóxicos)
Um cacho de banana nasceu na bananeira que fica no terreno do vizinho, nos galhos que pendiam para o meu terreno. O jardineiro logo me disse que a banana me pertencia. Perguntei-lhe se tinha certeza e ele me disse que sim. Perguntei-lhe como sabia e ele disse que isso era o correto. Fiquei pensando se certas regras, de tão antigas, acabam se impregnando na cabeça das pessoas ou se estas regras foram feitas segundo os costumes. O fato é que assim está no Código Civil:

Seção II
Das Árvores Limítrofes

Art. 1.282. A árvore, cujo tronco estiver na linha divisória, presume-se pertencer em comum aos donos dos prédios confinantes.

Art. 1.283. As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido.

Art. 1.284. Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se este for de propriedade particular.

E ele cortou o cacho de banana.
Cortado o cacho, o que fazer com ele?
Lembrei-me que, quando criança, os cachos de banana ficavam pendurados sob um telheiro, na parte de fora da casa, mas dentro do terreno. De vez em quando, um vizinho ou um hóspede davam cabo do cacho todo. Mas em regra as bananas eram consumidas só pela família.
Agora, as casas nem têm um lugar para pendurar o cacho. Então resolvi separar as bananas em pencas. Mas, para isso, existe uma faquinha curva, que eu não tinha. Então, corta-se com uma faca qualquer. O cacho, ou o caule do cacho, porém, solta uma resina, a "noida" que eu ouvia falar em Itajaí na década de 60 e ainda hoje ouço gente falando em Blumenau e em Florianópolis. Mas "noida" não existe no dicionário. Creio que "noida" é nódoa, palavra que o Aurélio dá um sentido que parece combinar com o que imagino seja a "noida", ou seja, uma mancha. Mas já ouvi dizerem que a resina "dá noida", e também que "é noida". O fato é que é o caule do cacho de banana solta uma resina pegajosa, que mancha a roupa, a faca e é difícil de tirar da mão.
Pensei, então, na dura vida do agricultor. Gente que tem uma vida trabalhosa e que nem sempre foi agraciada com o devido reconhecimento. Pior: aos camponeses foram dados nomes pejorativos. Vilão, por morar nas vilas, em oposição aos nobres que moravam nas cidades; peão (por andar à pé), em oposição aos cavaleiros que, por terem e montarem cavalos, podiam fazer a defesa do Rei; pagãos, por morarem nos "pagos", ou seja, nos campos. E ainda hoje, na legislação, se diz que membros da Magistratura devem tratar os membros do Ministério Público com urbanidade e os membros do Ministério Público da União devem tratar a todos com urbanidade, ou seja, com modos urbanos, da cidade. Daí se conclui que o comportamento ideal para Juízes e membros do Ministério Público é o urbano e o comportamento condenado é o rural.
Ou seja, o tratamento que a sociedade dá ao rurícula ainda é uma "noida" desta sociedade...

sábado, 29 de janeiro de 2011

Formigas antenadas

  
Outro dia andei vendo um documentário sobre comunicação entre formigas. Achei interessante, mas um episódio posterior deixou-me mais boquiaberto ainda.
Desde antes da era do microondas, minha mãe me disse que uma tia, que morava no Rio da Janeiro, adotava uma prática muito útil para quem não deseja comprar pão todos os dias: se compra certa quantidade do produto e se congela por até 4 meses (no congelador é por uns 10 dias; no "frizer" é que pode ser por 4 meses). Depois, na hora do café, se aquece e ele fica com gosto e aparência de novo. Com o aparecimento do forno de microondas, descobri que o aquecimento produz melhores resultados se feito no forno a gás ou no elétrico. No microondas o pão não fica torradinho, mas o processo também dá resultados práticos.
Pois uma manhã, ao tirar o cestinho de pão, ainda vazio, de cima do forno elétrico, que já estava aquecido, vi uma 50 formigas (daquelas bem pequenininhas) em pânico. Fiquei olhando um tempo, vendo o alvoroço, cuja causa supus que fosse o esquecimento do caminho de volta para a mesa (o forno tem 4 suportes pequenos e era por eles que passava a rota de fuga das formigas).
Mas, se havia umas 50 formigas girando em desespero com o calor que fazia na parte de cima do forninho, outras tantas já estavam nas laterais. Por ter visto o documentário sobre a comunicação entre as formigas, supus que estas outras, que andavam pelas laterais, procuravam a rota de fuga. E algumas, de fato, já estavam próximas de um dos 4 suportes do forno.
Fui pegar o pão no congelador. Ao voltar, havia apenas um cadáver de formiga em cima do forno (que tanto poderia ter morrido queimado, quanto pode ter sido a causa da subida das outras ao forninho). Todas as demais formigas fugiram, certamente após receberem comunicação sobre o caminho de volta.  

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Penas para os Nobres e para os Plebeus

A população da então colônia portuguesa conviveu,  por trezentos e trinta anos, com o sistema punitivo das Ordenações.
Este sistema, em geral, não previa a prisão como pena. O acusado permanecia preso até a sentença (1), quando então era executada a pena. As penas eram aplicadas, em regra, segundo os privilégios ou linhagem dos acusados. Assim, por exemplo, Fidalgos, Vereadores, Juízes e outros exaustivamente listados nas Ordenações, não poderiam sofrer pena de açoites, ou degredo com baraço e pregão (2). Estas penas, consideradas vis (ALMEIDA, 1870:1.315), eram aplicadas indistintamente nos crimes de Lesa Majestade, sodomia, testemunho falso e outros (3). Também não poderiam, os privilegiados, sofrer tormento (tortura), salvo se fossem acusados de crime de Lesa Majestade, aleivosia, furto e outros. Note-se que o tormento não era pena, mas sim meio de prova, “diligência", que deveria ser realizada formalmente (ALMEIDA, 1870: 1.308-1.310). 
Enfim, o sistema punitivo das Ordenações só em raríssimos casos cominava a pena de prisão e, mesmo assim, por tempo nunca superior a quatro meses (4). 
Ressalte-se, também, que a regra geral era que somente a classe dos peões suportava todos os tipos de penas, reservando-se para as pessoas então ditas de "maior qualidade" as penas de degredo, morte etc.
Tais pessoas ficavam, portanto, livres das denominadas penas vis(5).
De qualquer modo, tratava-se de um universo de penas em que a esmagadora maioria eram corporais ou infamantes.

Notas:
1 - PORTUGAL. Ordenações Filipinas (Livro Quinto, Titulo CXVII, §§ 12 a 19 e Título CXXII). 

2 - Segundo as Ordenações Filipinas (Livro Quinto, Título CXXXVIII) não podiam, em regra, sofrer a aplicação das penas vis os Escudeiros dos Prelados e dos Fidalgos, os moços da Estrebaria do Rei, da Rainha, do Príncipe, Infantes, Duques, Mestres, Marqueses, Prelados, Condes e de Conselheiros; os Pagens de Fidalgos, os Juízes, Vereadores e respectivos filhos, os Procuradores das Vilas ou Concelhos (sic), os Mestres e Pilotos de Navios, os amos ou colaços dos Desembargadores ou de Cavaleiros de linhagem. Ainda no Livro 5º, Título CXX, há disposição proibindo que sejam presos em ferros os Doutores em Leis ou em cânones, ou em Medicina, feitos em Universidade, os Cavaleiros Fidalgos, de Ordens Militares de Cristo, Santiago e Aviz, os Escrivães da Fazenda e Câmara reais, bem como as respectivas mulheres enquanto casadas ou mesmo já viúvas.

3 - PORTUGAL. Ordenações Filipinas (Livro Quinto, Tit. CXXXVIII, § 2º).

4 - PORTUGAL. Ordenações Filipinas. (Livro Quinto, Tit. CXXXIX).

5 - Segundo Pereira de Souza (apud ALMEIDA, 1870: 1.315) eram consideradas penas vis a forca, as galés, o cortamento de membro, os açoites, a marca nas costas, o baraço e o pregão. 

Bibliografia:

ALMEIDA, Cândido Mendes de. CÓDIGO PHILIPINO, OU ORDENAÇÕES E LEIS DO REINO DE PORTUGAL; Rio de Janeiro, 1870. Edição por reprodução em "fac-simile" da Fundação Calouste Gulbenkian, LISBOA, 1985.


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Enchente em Jurerê 5

Conforme suas posses e o lugar onde vai morar, cada um pode assumir seus riscos. Uns assumem riscos por morarem em encostas, perto de barrancos etc. Dentro do nosso espírito de coitadismo, logo se argumenta que o coitado não tinha outro lugar para morar e teve que se instalar na área de risco. Mas nem sempre a pobreza é a causa da opção pelo risco.
Da mesma forma que há criminosos entre os pobres, há também entre os ricos. E da mesma forma que pobres optam pela área de risco, os ricos também podem optar. Os pobres perdem tudo porque a casa foi levada pelo desmoronamento. Os ricos correm riscos porque fizeram a garagem subterrânea, que encheu de água. Na foto acima, geladeira, cama e outros móveis perdidos porque a garagem subterrânea encheu de água, como tantas outras em Jurerê. Evidentemente que o prejuízo, proporcionalmente, é bem menor e bem menos sentido do que quem perde uma casa levada pelo morro que caiu...
Como se vê, também, pobres e ricos jogam entulho no mato...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Enchente em Jurerê 4

A enchente em Jurerê Internacional fez algumas pessoas ulularem de espanto ou de outros sentimentos menos nobres. Não sei se é assim em outros países, mas, no Brasil, há uma antipatia com os ricos. Não se acredita que alguém possa ter ficado rico honestamente. Com certeza, se associa riqueza com pecado e pobreza com santidade. Donde ficarmos tanto tempo como um país pobre. 
Em 1986, na pesquisa que fiz para minha dissertação de mestrado, esta desconfiança para com os ricos ficou comprovada, para o universo de pesquisa, que assim respondeu:

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Enchente em Jurerê 3

Hoje, 48 horas depois da tempestade, ainda há pontos de alagamento em Jurerê. São resquícios do aguaceiro, coisa acumulada aqui e ali. Mas estas grandes poças d'água deixadas pelas cheias, lembram-me uma proposta que foi feita para o Vale do Itajaí: a construção de grandes bacias, em que a água das chuvas iria se acumulando, para depois ser despejada, paulatinamente, nos rios.
Vendo estas poças em Jurerê, fica a dúvida se a criação de mosquitos é um ato ecologicamente correto... 
Passeio dos Namorados
Placa da Bandeira Azul


Heliponto e Il Campanário
Heliponto com água

Ao lado do acesso à praia


Hotel e passeio para praia

Ave em Jurerê
Com o calor do verão, logo estas poças viram criadouros de insetos aborrecidos.

Enchente em Jurerê 2

Carro parado

Vigiado pelo mundo

A águia é prateada

Sobre a cabeça o helicóptero

Segundo helicóptero

Fotógrafo aéreo

Rua Cheia

Rua é rio

Andando na água

Cândido pássaro pós-chuva

Garagem arriscada
Jurerê Internacional, em Florianópolis, ficou cheio d'água no dia 22.1.11. Gente andando pela água, correndo riscos, postura, que se vê, independente da situação social e financeira. Tem quem queira ganhar espaço e faz garagens subterrâneas e o ganho de espaço, em geral, se transforma em prejuízo se o buraco não for bem feito. E, com a enchente, a imprensa fotografa e filma a casa de todo mundo. Um helicóptero em cima de casa fazendo vento e filmando a vida de cada um acaba por completar o cenário de catástrofe.  

sábado, 22 de janeiro de 2011

Enchente em Jurerê






Mais fotos da cheia em Jurerê Internacional.

Jurerê Encheu

Chuva no Telhado

Pingo de Chuva na Telha

Pingo de Chuva no Chão

A rua cheia

Rua abaixo d'água

Rua alagada

Sapo abrigado na piscina

Sapo em detalhe
Com este temporal de hoje, dia 22.1.11, até as 10h45min, Jurerê Internacional ficou alagado. É o que mostram as fotos.

Ineficácia das Ordenações

Havia descumprimento das Ordenações, ou seja, havia exemplos de ineficácia?
Sim, havia exemplos, dentre os quais pode-se citar o caso de homicídio praticado pelo mameluco protegido de José Pardo: restando impune o matador, José Pardo foi morto, a titulo de vingança. Este episódio, aliás, é citado como o segundo incidente gerador da Guerra dos Emboabas (AB'SABER, 1989:302). Ao não se punir o homicídio, negou-se eficácia ao dispositivo das Ordenações (1) que cominava a pena de morte natural aos homicidas (ALMEIDA, 1870:1.192 e 1.315).


Notas:
1 - PORTUGAL. Ordenações Filipinas (Livro Quinto, Título XXXV).


Bibliografia:
AB'SABER, Aziz N. et aI. HISTORIA GERAL DA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA – A ÉPOCA COLONIAL - DO DESCOBRIMENTO À EXPANSÃO TERRITORIAL. 8. ed. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1989. V. 1, T. 1.
ALMEIDA, Cândido Mendes de. CÓDIGO PHILIPINO, OU ORDENAÇÕES E LEIS DO REINO DE PORTUGAL; Rio de Janeiro, 1870. Edição por reprodução em "fac-simile" da Fundação Calouste Gulbenkian, LISBOA, 1985.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Livro: DIREITO ADMINISTRATIVO PARA CONCURSO DE JUIZ - BRANDAO NETO, JOAO MARQUES - DIREITO ADMINISTRATIVO

Livro: DIREITO ADMINISTRATIVO PARA CONCURSO DE JUIZ - BRANDAO NETO, JOAO MARQUES - DIREITO ADMINISTRATIVO

Escrevi recentemente este livro, no qual apresento as matérias do concurso, como também explico os temas e dou suas origens.

Ócio

Em 1967 fui estudar no Colégio Salesiano Itajaí. Vinha do Grupo Escolar Vitor Meirelles, para onde fui forçado a imigrar, vindo do Colégio São José, então Escola Normal São José. Emigrei do São José em face de uma tolice que surgiu na época: as escolas deixariam de ser mistas, para ser frequentadas só por meninos ou só por meninas. Então deixei o Colégio São José, que ficou só para meninas, em 1964 e, em 1965, fui para o Grupo Escolar Victor Meirelles, que era misto. Pouco tempo mais tarde retomou-se o curso da evolução, e tanto o Colégio Salesiano (só meninos) quanto o São José (só meninas) voltaram a ser mistos. O Colégio Salesiano era dirigido por padres e o São José por freiras. Certamente a guinada moralista se deveu a mais uma das tolices dos golpistas de 31.3.64, pois a separação de sexos ocorreu exatamente em 1964. Mas, voltando à narrativa, migrei do Victor Meirelles em 1967 e fui para o Salesiano.
Na minha cabeça tive uma subida de posição na vida. De uma forma ou de outra, estava indo para um "colégio de homens" e saindo de uma "escola de crianças".
Pois bem, o prédio do Colégio era portentoso para a Itajaí da década de 60, uma cidade com cerca de 50 mil habitantes. As salas de aula, recentemente construídas, eram ligadas por um corredor, que do lado oposto às salas, servia também de sacada, dando para o pátio, onde havia quadras de vôlei, basquete e futebol de areia. O piso do corredor era vermelho e a sala em que tínhamos a aula do 4º ano primário (piso de tacos de madeira) ficava numa esquina do corredor, sendo a única sala com porta de vidro, encaixada numa parede também envidraçada. Era a sala com a entrada mais bonita, que talvez tenha sido, originalmente, destinada para outra finalidade, mas com o aumento da quantidade de matrículas, virou sala de aula.
Ao lado da minha sala de aulas, estava a biblioteca. É sobre esta porta que quero falar, mais exatamente sobre a lembrança do que nela havia. Preso na porta havia um pequeno quadro de cartolina, em que estava escrita em letras vermelhas a seguinte frase de ROUSSEAU:
Rico ou pobre, poderoso ou fraco, o ocioso é um patife.
Hoje, pelo Google, vi que a frase está no livro "Emílio ou Da Educação". Para ler esta frase no livro em que está, clique aqui e leia a versão em espanhol (procure por "bridón");  e clique aqui  para ler todo o texto em português (procure "patife", após dar "ctrl F").
A frase nunca me saiu da cabeça, desde que eu a li, há quase 44 anos (que se completam em março). Depois fui lendo outras obras que abordavam o ócio e o trabalho, especialmente "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" e fui aumentando minha má-vontade e antipatia para com os ociosos.
A foto acima é o que considero, depois da rede de dormir, um dos maiores símbolos do ócio entre nós: a sombrinha de praia (claro que em outros países também se vai à praia; mas lá as praias não são tão lindas e agradáveis como as nossas).
No mais, creio que foi Helmuth Kohl que, ao passar por uma praia no Rio de Janeiro, em visita oficial ao Brasil, disse alguma coisa do tipo "Quanto estas pessoas poderiam estar fazendo por seu país se não ficassem horas a fio estiradas na praia".
A frase foi esquecida ou nunca foi dita, não passando de mera imaginação minha, pois não a achei em exaustiva procura no Google (se alguém achar, que mo diga).
Se dita, certamente foi esquecida por que a grande desculpa da malandragem é repetir à exaustão a frase atribuída a De Gaulle (O Brasil não é um país sério). Afinal, se o país não é sério, para que trabalhar? Melhor é ficar na praia.
Felizmente, de uns tempos para cá, se começou e pensar mais seriamente no trabalho e o país foi para o primeiro mundo, ou está quase lá.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Cidades Ocultas - A Terra Santa Secreta: Etiópia - Documentários - Vídeos de Diversão - TerraTV

Esta matéria é muito interessante, inclusive porque mostra um local em que se acredita esteja, ainda hoje, a Arca da Aliança.
E, quem sabe, o Rei Lalibela teria sido o Preste João.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Eficácia das Ordenações

As Ordenações do Reino (Afonsinas, Manuelinas e Filipinas) eram cumpridas?
Sim e não. Há dados históricos que podem servir de exemplo tanto de eficácia quanto de ineficácia das Ordenações.
Como casos de eficácia das Ordenações, pode-se citar o abandono de dois degredados (1), pela expedição de Cabral, na terra brasileira recém-descoberta (AB'SABER, 1989:36). Ou as noticias de que, por volta de 1550, grande parte da população branca da colônia portuguesa era formada por degredados (AB'SABER, 1989:119). Também pode-se citar os protestos dos padres jesuítas, por volta de 1727, contra a existência do Pelourinho no "Terreiro de Jesus", em Salvador (BA), por causa dos gritos dos açoutados que perturbavam pela manhã as missas e as cerimônias religiosas do templo (FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA, 1994:20). E não só em Salvador tem-se noticia da aplicação da pena de açoites prevista nas Ordenações (15): na Praça Santa Catarina, situada na então Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis (SC), havia uma estaca de madeira onde (eram ) presos e açoitados os negros puníveis. (PIAZZA, 1983: 322).

Notas:
1 - PORTUGAL. Ordenações Filipinas (Livro Quinto, Titulo LVII).


Bibliografia:
AB'SABER, Aziz N. et aI. HISTORIA GERAL DA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA – A ÉPOCA COLONIAL - DO DESCOBRIMENTO À EXPANSÃO TERRITORIAL. 8. ed. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1989. V. 1, T. 1.


FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA. PELOURINHO. Salvador, 1994. 


PIAZZA, Walter. SANTA CATARINA: SUA HISTÓRIA. Florian6polis:Ed. Da UFSC/Ed. Lunardelli, 1983.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Passarinho Tecnológico

Passarinho na neve

Passarinho Tecnológico

Passarinho Antenado
Apesar de muitas histórias e estórias que li sobre migração de passarinhos, especialmente para fugirem do frio, já vi passarinhos na neve. Foi no Chile, Vale Nevado e fiquei tão pasmo, que fotografei. 
Mas há os passarinhos que se adaptam ao mundo moderno e vivem em cima de fios e antenas. Também é interessante (vide foto). 
Quando criança, perguntei a um tio porque os passarinhos pousavam nos fios e não eram eletrocutados. Explicou-me o tio que era por causa das pernas finas. Se eu tinha alguma dúvida, passei a acreditar quando vi, aos sete anos, um urubu ser eletrocutado após pousar no fio de alta tensão.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Bicho do Pé e Cardiopatia

17 de janeiro de 1990, 8h30min. Eu descia o Morro do Valagão, Canto dos Araçás, Lagoa da Conceição, onde então morava. Fumava o que seria o último cigarro destes 21 anos. De repente uma dorzinha no dedo minguinho do pé, que foi me deixando nervoso, pois eu não podia ver o que era, já que usava uma bota sete léguas. E fui ficando nervoso e a dor passou para o peito. E foi doendo. Galo, o motorista que me esperava lá embaixo para me levar a uma audiência em Lages, perguntou se doía muito. Sim, doía, era como uma faca enfiada no meio da costela. Pedi para ser levado ao Hospital. No pronto socorro disseram para eu esperar na fila. Eu disse que "não tava legal" e não podia esperar. Levaram-me para fazer um eletro-cardiograma e a médica anunciou um enfarto. 
E agora?
A médica achou que eu não tinha me assustado muito com a notícia. 
Mas se eu não mantivesse a calma podia bater as botas...
E foi dada a ordem de encaminhar-me para um hospital especializado, transportando-me em ambulância. 
Apesar de eu nunca ter sido preso, acho que uma prisão em flagrante e uma internação de emergência devem ter semelhanças: o camarada, nos dois casos, perde a liberdade. No caso da prisão, quem lhe tira a liberdade é o policial que lhe prende em flagrante (ou qualquer do povo que efetue a prisão em flagrante - que pode e deve fazer isso) ou aquele que cumpre a ordem judicial de prisão temporária, preventiva ou após condenação (neste caso de condenação, só depois de passar pela primeira instância, pela segunda, pela terceira e pelo STF...); no caso da internação, quem lhe tira a liberdade é o médico.
Na ambulância fiquei esperando o "filme da vida", que, na época, era o que diziam acontecer antes do camarada ir dessa para a outra. Felizmente o filme não começou. Segui na ambulância. A cada lombada, ficava com medo de não chegar ao hospital. As lombadas são um problema nessas horas, pois as ambulâncias não podem voar por cima delas.
Cheguei no hospital e fui posto numa maca. Em seguida, após confirmação do diagnóstico, recebi estreptoquinase e dolantina. E apaguei. Acordando mais tarde, vi que estava vivo.
Recebi visita de parentes.
Depois foi visto que eu não tivera enfarto, mas espasmo coronariano.
Como fiquei cinco dias internado, não fumei nestes cinco dias. E fui tentando ficar sem fumar cada dia que passava. E estou até hoje sem fumar, sem que a vontade tenha passado.
Ah, sim. A dor que eu senti no dedo do pé era causada por um bicho-do-pé, tirado durante a internação, por uma gentil enfermeira. 

domingo, 16 de janeiro de 2011

Adão, Eva e o Trabalho

A criação

A traição
 As fotos foram tiradas em 2010, na Catedral de Monreale, cidade que fica na Sicília/Itália. Mostram a trajetória de Adão e Eva, que se encerra com o casal trabalhando. O trabalho lhes foi dado como pena, pela traição: "Ganharás o teu pão com o suor do teu rosto". Esta visão do trabalho como castigo tem empobrecido muita gente. E a visão do trabalho como serviço para Deus tem enriquecido outro tanto de gente.
A vergonha

A expulsão

O trabalho como castigo