quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sara, Xerxes e as enchentes

Sara e Xerxes são amigos meus e moram numa região de uma cidade do Vale do Itajaí que alaga nas grandes enchentes. Eles compraram o terreno e construíram a casa muito depois da enchente de 1983 e eu, que vira o alagamento lá de cima do Morro da Cruz, avisei a eles que o terreno enchia. Pois bem, dito e feito: em 2008 a casa deles ficou com 1 metro de água. Não se queixaram, pois eu os havia avisado. Perderam móveis, mas levaram muita coisa para o sobrado (o 1º andar da casa) e o prejuízo maior acabou sendo pago pelo seguro (perderam um carro, que ficou submerso). Sara e os dois filhos foram para a casa de amigos e Xerxes ficou tomando conta da casa (durante a enchente, salteadores navegavam em busca de casas vazias, para saqueá-las). Baixadas as águas, Xerxes bolou algumas engenhocas (cogitou de fazer uma balsa com garrafas "pet" para fazer seu carro flutuar) e Sara encomendou móveis à prova d'água. Eu mesmo presenteei Xerxes com um protótipo de balsa: garrafas plásticas de Coca-Cola, unidas por dois sarrafinhos e um carro também de plástico em cima, fixado com braçadeiras de nylon. Testamos a balsinha na piscina e o conjunto flutuou. Mas Marcos, filho de Sara e Xerxes, logo tirou o carrinho do barco e foi brincar em terra firme.
Ao longo de 2009 os reparos foram feitos na casa.
A enchente de 2011 serviu para Sara e Xerxes testarem as obras à prova d'água que fizeram. Mesmo nervosos e temerosos com a subida das águas, resolveram ficar em casa, vendo o andar de baixo ser inundado. Levaram tudo para cima e só ficou embaixo o que já fora feito para resistir à água. Instalaram-se no andar superior, Xerxes, Sara e os filhos Marcos e Yara, alimentando-se de sanduíches e outras comidas não perecíveis. Sem energia elétrica, não havia internet, televisão a cabo e celular. Contou-me Xerxes que ficavam vendo a paisagem, a água que tudo inundara e conversando, até 21 horas, quando iam dormir (tal como se fazia até a década de 60, quando não havia televisão).  Isto durou dois dias e duas noites. Depois as águas baixaram. E uma capivara estava instalada na piscina da casa. Já estava há três dias lá, quando Xerxes e Sara me contaram sobre os dias da enchente e os esforços feitos para espantar a capivara sem cometer crime ambiental. 

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