domingo, 31 de outubro de 2010

Bisavô Maneca e Vô Joca

Inocência

Lendo, há tempos, num jornal, uma referência a certa companhia lírica, que esteve aqui no Estado em 1903, tendo uma porte do 'elenco dados alguns espetáculos em Itajaí,. lembrei-me de um episódio que minha mãe me contou, e eu achei muita graça, e que de certo modo está ligado a essa companhia.

Quando eu ia brincar com minhas primas, que moravam perto da casa do Sr. Manoel Marques Brandão seu Maneca Marques, como era conhecido - às vezes parava para falar com ele, mas lembro-me de que não me sentia muito à vontade; tinha um certo medo, talvez por estar ele sempre muito sério, e também porque usava roupa escura e tinha uma barba preta, cerrada. Não saía de casa e gostava de ficar encostado à meia porta de entrada, vendo quem passava na rua.

Era pai do Joca Brandão e eu achava isso muito esquisito, pois o filho não se parecia nada com ele. O Joca era um moço alegre, simpático; era afilhado de mamãe e íntimo em nossa casa. Estava sempre de bom humor, contava anedotas, fazia-nos rir.

A chegada da companhia lírica foi um grande acontecimento na cidade, e muita gente foi ver os artistas desembarcarem.

Eu também fui, com minhas primas, e quando voltamos seu Maneca Marques nos chamou para conversar, queria saber se os artistas tinham chegado.
Nunca me lembrei dessa conversa, mas, anos mais tarde, mamãe contou-me que, no dia seguinte, o Joca foi lá em casa:

- Madrinha, quer saber de uma engraçada? A Florzinha esteve ontem, com as primas, conversando com papai e ele perguntou se as moças da companhia eram bonitas; ela fez um jeitinho, como quem duvida, e disse: "Não sei... elas têm uma coisa muito grande, aqui." E indicou o busto! O pai teve uma vontade louca de rir, mas disfarçou.

Antigamente a moda era ter cintura fina e busto saliente, e como as artistas quase sempre exageram, eu reparei e achei feio ...


O texto acima foi escrito na década de 1940. Está no livro "Uma Menina de Itajaí", de Raquel Liberato Meyer, editado em 1961, edição póstuma, pelos familiares da autora. A crônica está nas páginas 41 e 41. Maneca é o meu bisavô; Joca (apelido de João Marques Brandão), meu avô.

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