quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Tempos de Inflação


Quem chegou até a vida adulta antes de 1994 conheceu a inflação alta. Coisa de 10 a 80 por cento ao mês. Sequer se sabia quanto seria a remuneração do mês seguinte. Nas lojas, o vendedor pressionava dizendo que o preço ia aumentar no dia seguinte. E aumentava mesmo. Dia desses ouvi dois representantes comerciais conversando. Um deles lamentava os dias que correm, pois dizia que seus compradores pechinchavam muito no preço. E lembrava com saudades dos tempos em que ninguém discutia os preços. E não se discutia mesmo, pois os preços eram muito instáveis, sempre mudando para mais.
Pois bem, naqueles tempos os bancos ofereciam toda sorte de investimentos que preservassem o valor da moeda. Para gente comum havia a poupança e as contas remuneradas. Ninguém deixava o dinheiro no banco sem colocá-lo em alguma aplicação.
Para os muito endinheirados, havia o "over night", o "over" como diziam. De um dia para o outro, durante a noite, o dinheiro rendia juros e correção. Então, contou-me agora um empresário (Gerobão é seu nome), quem tinha muito dinheiro, praticamente ditava as taxas de juros. Fritz – dono de uma empresa – ligava para Geraldo, gerente de um banco:
- Geraldo, quanto estás pagando no "over"?
- 19,55%
- O Pedro (gerente de Banco Bola de Ouro) está pagando 21%!
Geraldo sabia que, se Fritz tirasse o dinheiro de seu banco, perderia o emprego. E concedia a taxa de juros de 21%.
Mas eram tempos em que os empresários ganhavam mais aplicando o dinheiro do que modernizando seu parque fabril. Um amigo contou-me que um empresário daquela época estava em dúvida se gastava alguns milhares de cruzeiros numa máquina ou colocava o dinheiro no banco. Sabia que se colocasse no banco teria um retorno maior.
A produção, por causa disso, se tornava um detalhe do processo industrial. O mesmo empresário Gerobão contou-me que era relações públicas de uma malharia, nos idos de 1990 e esta malharia destinava 500 camisetas por mês para brindes. Um dia, acabaram-se as camisetas que estavam no escritório e Gerobão pediu que lhe trouxessem mais. Vieram caixas e caixas e ele mandou contar, resultando um total de 5 mil camisetas. Ligou para o depósito, dizendo para virem buscar as 4.500 em excesso. O encarregado disse que podia distribuir as 5 mil, que não fariam falta.
Com o fim da inflação, os parques fabris estavam sucateados, pois muitas máquinas deixaram de ser compradas e as antigas não eram competitivas.

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