domingo, 25 de outubro de 2009

Ladrão de Galinha

Ainda hoje se usa a expressão "ladrão de galinha" para descrever o pequeno ladrão, o ladrão de coisa pequena. E daí partir-se para a "denúncia" de injustiças: prende-se o ladrão de galinha, mas se solta o grande criminoso, que se apropria de fortunas.
Na verdade, nem sempre o ladrão de galinha é inofensivo. Escutei muitas vezes minha mãe contar sobre os estragos que os ladrões de galinha faziam na pacata cidade de Itajaí/SC, nos idos de 1932: de manhã cedo, os vizinhos contavam uns aos outros sobre as galinhas furtadas na noite. Numa destas noites, meu avô saiu de casa, em ceroulas, com uma espingarda na mão, dando tiros para cima, tentando espantar os larápios que estavam pondo o galinheiro em pânico. Dias depois, contava ainda minha mãe, sabia-se de alguém oferecendo galinhas, que transportava numa carroça cheia delas; ou então corria a notícia de um lauto almoço, para animado grupo de amigos, onde o prato principal eram galinhas em abundância.
Vê-se que o ladrão de galinha nem sempre é um pobre coitado que furta para sobreviver. A expressão "ladrão de galinha" passa a ser, portanto, um “topoi” - lugares em nome dos que se fala, como elementos calibradores dos processos argumentativos, de forma tal que se força a aceitação de determinadas teses conclusivas dos discursos, a partir de fórmulas integradoras e estereotipadas. Assim, tais fórmulas, vinculando conclusões às representações sociais culturalmente impostas, forçam, em um processo de identificação ideológica, o consenso sobre mensagens comunicadas (WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua Linguagem. UFSC/CPGD, 1983, p. 07).
Percebe-se, portanto, que o ladrão de galinha pode se organizar, pode formar quadrilhas de ladrões de galinha e pode, portanto, se tornar um criminoso que movimente grandes quantias sob a fachada de um crime tido como exemplo de "pecadilho" inofensivo.

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