terça-feira, 29 de setembro de 2009

Enchente e Retórica


Estamos de novo vendo a chuva cair e os rios se encherem em Santa Catarina. Agora, enfrenta-se risco de desabamentos de morros. Apesar de haver proibição no Código Florestal já desde 1965, as pessoas cortam morros ou constroem em encostas. Depois das enchentes de 1983 e 1984, muita gente foi morar em morros (refiro-me aos que podem podem optar onde morar e não aos que vão morar onde o dinheiro permite).Com as chuvas de 2008, muitos morros desabaram e ricos e pobres perderam as casas.

A primeira enchente de grandes proporções que vivi foi a de 1983. Eu morava em Itajaí. Já, na época, se creditou a catástrofe ao desmatamento. Acreditei nisso até ir um dia ao museu. Fui até a coleção de jornais antigos e li "O Pharol" de 1911 ou de 1912. O jornal descrevia uma enchente que acabara de atingir a cidade. Listou as regiões alagadas de Itajaí, que coincidiam com as de 1983. E em 1912 tinha muito mais mato em Itajaí do que em 1983.

Houve, portanto, por parte daqueles que atribuíram ao desmatamento as causas da enchente de 1983, precipitação e irresponsabilidade. Ainda que a causa ambiental seja boa, não podemos usar as agressões à natureza como causa daqueles fenômenos cíclicos. Dar falsas causas em apoio a uma convicção, abala a credibilidade de quem propala estas falsas causas e desgasta a causa defendida. Tal tipo de comportamento dificulta, também, que se combata os reais motivos que precipitam ou amplificam os desastres naturais. Assim, o amor à verdade e à prova científica sempre são fiéis ajudandes de uma boa causa.

A foto acima é de uma enchurrada de verão, ocorrida entre 1980 e 1982, em Itajaí. Foi tirada pelo fotógrafo do jornal "Diarinho", na época em que eu fazia uma coluna para o jornal, e me dada de presente.

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